coisa na vida além de tomar decisões importantes olhando para o porto, na
Holmens Kanal, o centro financeiro de Copenhague. Eva atentou às mãos deles,
cuidadas, de unhas perfeitas. Nenhuma marca de mordida, nenhum curativo. Mais
adiante. Não conseguia afastar os olhos de um homem em especial. Usava o cabelo
cortado muito rente e estava sentado de costas para Eva. Tinha nuca larga e forte,
com uma dobra logo acima do colarinho. Era rijo e musculoso de um jeito
profissional, de quem o trabalho exige isso, e não de quem passa anos suando na
academia só para conseguir físico atraente. Eva esboçou um sorriso de desculpas
quando tornou a levantar e avançou pelo corredor da igreja, olhando ansiosamente
as mãos dos presentes. Ali, um que escondia a mão direita no bolso. Olhou para ele.
Era velho demais? Eva sentou ao lado dele. Ele lhe deu lugar, mas não tirou a mão
do bolso. Por outro lado, não deu o mínimo sinal de tê-la reconhecido. Teria ele
lágrimas nos olhos?
De repente, Helena se virou e olhou para Eva, como se soubesse, como se já
esperasse que ela estivesse sentada ali. Eva sentiu uma espécie de formigamento no
corpo e se agachou ligeiramente, como se para rezar, mas já era tarde. A dama de
companhia se reclinou e disse algo a um homem sentado atrás dela. O homem se
levantou e, de imediato, foi até Eva, com discreta eficiência, como um garçom de
restaurante, e lhe disse em tom impessoal:
- Não querem a senhora aqui.
- Mas...
Eva não sabia o que dizer. Olhou a mão dele, forte, sem nenhuma marca. Por um
instante, lamentou não ter previsto que uma situação como aquela pudesse
acontecer. Talvez devesse ter tido um plano preconcebido, ter pensado no que dizer
num caso desses. Agora era tarde. - Preciso pedir que vá embora – disse o indivíduo no mesmo tom impessoal.
“Como um robô programado”, pensou Eva. Um robô que só conseguia repetir
uma frase, sempre e sempre: “Preciso pedir que vá embora”.