Eva hesitou tanto que o robô se viu obrigado a ampliar o vocabulário.
- É uma cerimônia privada, e estranhos não são bem-vindos.
- Mas todo mundo pode... – Eva olhou para o homem que estava sentado a seu
lado e que olhou também para ela, antes de, entretanto, se afastar um pouco. – É
claro – ela acabou dizendo.
Levantou-se. Sentia que o robô a seguia com o olhar. Eva desceu pelo corredor
central e virou entre as fileiras de cadeiras, perto do púlpito, rumo à porta pela qual
tinha entrado. Nesse momento, os velhos estavam saindo. Eva olhou uma única vez
por cima do ombro, e ninguém a estava vigiando.
“Não.” Deu meia-volta, cento e oitenta graus, e pegou o corredor lateral até o
outro extremo da igreja, em direção aos velhos, procurando um lugar onde se
esconder, um lugar de onde pudesse observar todos os enlutados ao mesmo tempo.
Moveu-se ao abrigo das colunas góticas até chegar a uma escada ampla e gasta. O
guia falava da princesa dinamarquesa Dagmar – a czarina Maria Fiódorovna, mãe
de Nicolau II –, enquanto Eva procurava o lugar certo onde se colocar para poder
ver o melhor possível sem ser vista. A voz do guia era um eco, um tanto distante,
como se vindo do passado, que narrava que Dagmar, filha de Cristiano IX, tinha
estado enterrada ali até setembro de 2006, quando o ataúde empreendeu a viagem
que, na primeira etapa, o levou em carruagem fúnebre para Copenhague, até o Cais
Langelinie.
Eva subiu a escada tranquilamente, acompanhando a cadência da voz do guia, que
contava que Dagmar tinha sido trasladada de navio para São Petersburgo e
reenterrada lá na Rússia ao lado do marido, o czar Alexandre III. A visita guiada
acabou. A porta se fechou. “É proibida a entrada de estranhos.” Quando o órgão
começou a tocar, Eva correu escada acima. Chegou ao alto e sentou um pouco
enquanto o coro acabava de cantar o primeiro hino:
“Embora siga sozinho nos momentos de dor...”
Eva aproveitou para lançar, pelo corrimão, um olhar furtivo aos presentes. Viu