Na rodovia – 12h33
Eva só pegou o centro de Copenhague porque não sabia para onde mais ir.
Poderia perfeitamente ter feito o contrário: ido para o campo, encontrado um
vilarejo deserto qualquer com alguma pousada solitária ou centro cultural
decadente, tomado café com o olhar perdido, ou olhado para o céu, devaneando em
outra realidade, longe, uma realidade em que ninguém quisesse matá-la, invadir sua
casa, amarrá-la e apalpá-la. Em vez disso, escolheu Copenhague, as multidões, os
carros, o comércio, o burburinho; a cidade é que a protegeria, que a esconderia de
um inimigo que, ela sabia agora, queria matá-la.
Distrito de Valby. Eva não se lembrava de ter pegado o desvio. Também sem
saber por quê, estacionou na praça. Ficou no carro, com o motor ligado, olhando
em volta. Alguém a seguia? Bares e cafés ao ar livre, pessoas que passeavam
despreocupadas ou sentavam às mesas para curtir a primavera enquanto tomavam
café com leite ou suco de laranja feito na hora; mulheres da mesma idade que Eva
com filho no colo, carrinho de bebê, marido, amigas e vida absolutamente normal.
O tipo de vida de que Eva deveria ter sido protagonista, como seu inimigo tinha
dito imediatamente antes de tentar matá-la. Desceu do carro. Foi o cheiro da
própria urina o que a fez sair para a calçada. Aquilo já não estava tão visível, porém;
as calças estavam quase secas. Sentou num café ao ar livre. Ali não tentariam matá-
la.
- Com licença – disse Eva. A mulher se voltou. – Você me arranjaria um cigarro?