- Pois é, uma desgraça também para a nossa amiga aí. Compraram casa juntos,
mas não casaram. - Ah, clássico – disse Marcus, e respirou fundo. Um número
surpreendentemente grande de militares destacados para zonas de conflito não
tinha se dado ao trabalho de cuidar dos requisitos formais para a eventualidade de
voltarem para casa num caixão. Isso apesar de o Ministério da Defesa reiterar o
quanto aquilo era importante. Mas entendia-se. Os jovens não aguentavam a ideia
de precisar planejar a própria morte, ser previdentes; tinham medo de que isso os
deixasse em pânico no campo de batalha. - Ainda está aí, chefe?
- Estou ouvindo – disse Marcus.
- OK. Agora vem a parte boa: não concederam nenhuma indenização para ela,
nada. Foi tudo para a sogra. A Eva entrou na Justiça contra o Ministério da Defesa.
Andei dando uns telefonemas. Ela chegou mesmo a escrever umas coisas muito
feias. - Você está falando do quê?
- São cartas que transpiram ódio de verdade, acusando o Ministério de ser
culpado da morte do militar. Ficou doida. Armou um barraco no enterro do
namorado. - Tipo?
- Berrou com os generais. Fez um escândalo, estava totalmente fora de si.
Marcus fechou os olhos e os manteve assim, sem saber realmente o que
encontraria naquela escuridão, talvez alguma coisa que fizesse mais sentido que a
vida de Eva. - E tem mais.
- Continue.
- Acabou arrancando as coroas do uniforme de gala do namorado e mandando
para a comandante-chefe.[10]
carla scalaejcves
(Carla ScalaEjcveS)
#1