Gente sem conexão com a internet. Em pouquíssimos anos, sem conexão com a
internet tinha virado sinônimo de indigente, alcoólatra, dependente da sociedade.
Infelizes doentes mentais. Gente que tinha sucumbido aos cortes orçamentários e
para quem o Diamante Negro constituía a possibilidade de achar abrigo, acesso
gratuito a sanitário e a computador. Talvez também acesso a um pouco de
dignidade. Em todo caso, Eva imaginava que devia ser menos degradante estar ali
do que em cima de alguma grade do metrô, esperando o vapor quente do sistema de
ventilação.
Estou virando um deles? O cheiro era o mesmo, embora tivesse limpado as calças
com água e sabonete no lavatório. Quase tinha piorado o efeito. Não fazia
diferença. Sentou-se em frente a um computador que estava livre. Conectou-se.
Pensou no homem com a marca de seus dentes na mão. Recordou seu rosto. O
olhar caloroso e sedutor que convidava a confiar nele. Aqueles olhos irradiavam
credibilidade e boa vontade quando disse a Eva que ela não estava no elenco, que
podia dar meia-volta e largar a tragédia sem problemas. E imediatamente depois
tentou matá-la.
- OK, filho da puta. Agora quero saber quem é você.
Procurou o nome Christian Brix no Google. Se o homem tinha ido ao funeral de
Brix, os dois tinham de ser conhecidos um do outro. Talvez fossem colegas de
trabalho. Velhos amigos? Em algum lugar apareceria uma foto, algo que ajudasse
Eva a progredir na busca. De novo, porém, constatou que Brix se destacava pela
ausência no Google. De repente, Eva se lembrou de algo que tinha lido certa vez:
que uma das coisas que tinham dado aos americanos a pista sobre o paradeiro de
Osama bin Laden era que o líder terrorista morava num bairro paquistanês
confortável, mas não tinha nem telefone nem internet. Foi justamente a
competência para se esconder o que levou à sua localização. Como dizia alguém na
matéria: “Às vezes, não estar presente chega a ser suspeito”. Por que um homem
como Christian Brix não existia no ciberespaço? Sim, ali estava ele, na minuta de