Porto de Copenhague – 20h53
A morte. Ultimamente, ela a perseguia, pensou Eva ao sair da biblioteca.
Demorou-se um pouco, aproximou-se da beira do cais e se debruçou, como quando
alguém vai sentir o aroma de uma panela no fogo. O cheiro da água do ancoradouro
veio ao seu encontro. Ergueu os olhos. Tinha anoitecido. As janelas do outro lado
davam vida à água. Viver e morrer. Lagerkvist tinha sessenta e cinco anos, e logo
estaria tudo acabado para ele. Quando terminaria tudo para ela? Naquela mesma
noite, ou no dia seguinte, se não tomasse cuidado. Mas para onde podia ir? Não
podia voltar para casa; isso estava fora de cogitação. Precisaria achar outro lugar
onde passar a noite.