Distrito de Vesterbro, Copenhague – 21h30
A luz forte e dura da recepção do hotel feriu os olhos de Eva. De repente,
percebeu que não tinha dormido na noite anterior. Tinha a sensação de que seus
olhos haviam secado; estava quase a ponto de fechá-los, como se estivesse fora do
mundo que a rodeava e só se apercebesse das coisas uma fração de segundo tarde
demais. Ficou esperando na recepção. A recepcionista, uma mocinha com a metade
da idade de Eva, tinha antes que terminar uma conversa no celular. Eva flagrou o
próprio reflexo no espelho que estava atrás do balcão. Não se reconhecia. Estava
pálida, como se não tivesse mais sangue nas veias; parecia apavorada e irritada.
- Sebastian! – disse a recepcionista em tom de advertência, como uma
professorinha ao aluno. Ainda não tinha dado nenhuma atenção a Eva. – Eu estou
trabalhando! – Depois deu uma risadinha.
Eva emitiu um som adequado a esse tipo de situação; era breve e impaciente, um
grunhido. - Agora preciso desligar – disse a recepcionista, e encerrou a conversa.
- Quero um quarto.
- Quantas noites?
- Só esta.
- OK. Precisa preencher isto e pagar adiantado. Tem algum documento?
- Não estou com nenhum.
- Nem a habilitação ou...?