A Santa Aliança

(Carla ScalaEjcveS) #1

Pareciam-se com os outros hóspedes, turistas abonados e decadentes do Oriente
Médio e da Europa que estavam em Dubai para jogar golfe e tênis, e curtir o bom
tempo. E então atacaram.
Foi o que fez Marcus. Quebrou o vidro com uma cotovelada seca e rápida. Viu
que quase não tinha feito barulho, enfiou a mão lá dentro e abriu o trinco. Ergueu
sem problemas seus noventa quilos de peso e passou pelo buraco estreito da janela.
Entrou na cozinha. Ficou quieto um instante, acostumando-se à escuridão para
poder orientar-se com a luz vermelha e escassa. O lugar cheirava a comida rançosa.
Bacon e mais alguma coisa. Marcus atravessou a cozinha até uma escada, que subia.
Para onde ia? Marcus venceu os degraus em três pernadas e abriu cautelosamente a
porta, que dava para o restaurante, deserto. As cadeiras e as mesas eram vultos
vagos, cinzentos.



  • Marcus? – perguntou Trane pelo fone.

  • Já entrei.
    Atravessou correndo o restaurante e saiu num corredorzinho, onde uma porta
    entreaberta dava na recepção. Marcus espiou e viu a silhueta de uma moça que,
    sentada, falava ao celular, sendo iluminada pela luz de uma vela acesa no balcão.
    Estava numa conversa particular no iPhone e não parava de rir, totalmente absorta.
    Na parede, atrás dela, estava o telefone para falar com os hóspedes, uma velharia. A
    escada ficava bem em frente à garota. Era impossível que Marcus chegasse lá sem ser
    visto. No entanto... Mesmo que a garota levantasse a cabeça e olhasse para ele,
    grande parte do campo de visão dela estaria bloqueado pela coluna de mármore que
    constituía o centro da recepção.
    Marcus retrocedeu e voltou a entrar no restaurante.

  • Trane? – sussurrou.

  • Na escuta.

  • A linha telefônica do hotel continua funcionando?

  • Continua. Isso não tem nada a ver com a rede elétrica.

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