Hospital Sankt Lukas, Hellerup, Grande Copenhague – 8h20
A noite tinha sido a única coisa, em muito tempo, que foi amável com Eva e a
tratou com certa cortesia. Eva dormiu num banco de praça, matutando se aquela
seria sua cama dali em diante. Podia até escolher qual. Olhou para o relógio da
igreja. Eram quase sete e meia. Poderia ir visitá-lo tão cedo? Tinha conciliado o
sono ao lado de dois indigentes, perto do canal e do Palácio de Christiansborg;
parecera-lhe um bom abrigo. Os indigentes, ambos homens, olharam para ela.
Ficou deitada a alguns metros deles. Não lhes disse nada, nem eles acharam
necessário dizer alguma coisa. Continuavam dormindo quando Eva se levantou. Ela
correu até a estação, para se aquecer. Estava com a alma leve enquanto esperava o
trem para Hellerup. Depois de ter ficado sem casa e sem trabalho, achava que já não
tinha nada a perder; mas lhe restava algo – a dignidade.
- Ele está esperando visita? – perguntou a enfermeira, uma moça de coque.
Olhou Eva de cima a baixo, não de modo condenatório, mas para ter ideia de quem
seria a visitante. - Está – disse Eva.
- E o seu nome?
- Eva.
- Eva de onde?