Estado, todo mundo na mesma merda de grupo. A Casa Real, os mandachuvas da
imprensa, altos funcionários, a cúpula do empresariado dinamarquês, todos estão
unidos de maneira indissolúvel numa sociedade secreta, e isso enquanto tantos de
nós andamos por aí achando que vivemos numa democracia e que esse teatrinho
que nos mostram nos telejornais tem alguma coisa a ver com a realidade.
- E o que faço agora?
- O contrário do que vem fazendo. Você fez tudo errado. Tudo – repetiu.
Eva respirou fundo; voltava a reconhecer aquele tom depreciativo. - O jeito como você falou com Juncker... pare com isso, foi a coisa mais tosca que
já vi um jornalista fazer na vida! Se eu fosse dar nota para isso, teria que ser menos
que zero.
Eva baixou o olhar. Lagerkvist a olhou sem pena e continuou o sermão: - Por princípio, você só pode abordar as pessoas quando já sabe tudo o que há
para saber. Nunca antes disso. Nesse tipo de jornalismo, o investigativo, as pessoas
nunca devem ter a sensação de que estão sendo entrevistadas. Você está
entendendo? - Não.
- Quando você aborda alguém, é sempre para contar o que você já sabe. O outro
não pode ficar com a impressão de que você pretende sondá-lo. Você simplesmente
faz a gentileza de contar a história que o jornal vai estampar na primeira página e,
aí, põe todas as cartas na mesa. Só então ele, não importa quem seja, vai falar. - Mas...
- Como é que você vai investigar alguma coisa se não pode mais pegar o telefone
e ligar para as pessoas para questionar as implicações disto ou daquilo? Era isso o
que você queria perguntar? Pois bem, minha filha, eu digo: para começo de
conversa, esqueça a internet. Você não vai achar nada lá, de jeito nenhum. Todos
esses idiotas sem talento que estão nas redações de hoje acham que conseguem
achar as matérias na internet e esquecem que ela está cheinha de erros. Confundem