Eva olhou para Kasper, que levantou um dedo e a voz:
- Adam! Não quero ouvir mais nenhuma palavra sua. Estamos entendidos?
Eva sentou ao lado de uma das meninas. - O que você está desenhando? Parece interessante.
Eva se deu conta do quanto suas palavras soavam forçadas. - É a minha mãe. Você tá vendo como ela tá brava?
Eva contemplou o desenho de uma mulher que parecia um emoticon usado para o
mau humor. - É, talvez.
- Com o meu pai, hoje de manhã – acrescentou.
Eva não soube o que dizer.
Kasper sentou ao lado de Eva e sussurrou: - Eles perguntam tudo. E contam tudo.
Eva olhou para ele. Kasper tinha um hálito agradável, de café misturado com bala
de alcaçuz. Eva viu um menino que estava sentado sozinho num canto.
Aproximou-se dele, afastando-se de Adam, o que fazia perguntas demais, e da
menina que contava coisas demais. - O que você está desenhando?
- Nada – disse o menino, e cobriu o desenho com as mãos. Era um garoto muito
fofo, moreno. Tinha uns cinco anos; o olhar, porém, o fazia parecer mais velho. - Tudo bem. – Eva se levantou. – Não tem problema.
O menino afastou as mãos para que Eva pudesse ver o que ele tinha desenhado:
duas pessoas; dois homens. Um cravava algo nas costas do outro; talvez uma faca.
Ou estava apenas empurrando o outro? Aquilo era uma mão? Grandes gotas de
sangue saltavam pelos ares. Uma poça de sangue preenchia a parte inferior do
desenho. - O que é? – perguntou Eva.
- Nada.