A Santa Aliança

(Carla ScalaEjcveS) #1

Dyrehaven (Parque dos Cervos), Grande Copenhague – 8h53


O velho teria visto o corpo? Será que tinha ouvido o disparo, visto os pombos
silvestres levantarem voo e resolvido dar uma olhada para checar se havia
acontecido alguma coisa? De todo modo, mesmo se não tivesse visto o corpo,
mesmo se não tivesse visto Marcus, o velho tinha visto demais. A polícia não
demoraria a aparecer. Tomariam o depoimento dos vizinhos: “Viram alguma
coisa?” “Os senhores viram alguém na mata do parque agora de manhã?” Os
policiais perguntariam isso e acabariam topando com o velho, que diria: “Vi, sim.
Um homem. Ouvi um disparo quando saí para ver os pica-paus e as garças e
admirar a aurora. Resolvi entrar um pouco mais na mata. Afinal, não estamos na
temporada de caça aos cervos. Eu queria dizer ao caçador que parasse naquela
mesma hora, que ele se arriscava a atirar numa das fêmeas que buscam comida para
as crias. Só que não achei caçador nenhum. Mas vi outro homem. Ele estava de
terno preto. Parecia algum segurança, desses que a gente vê na TV. Cabelo bem
curto, boa forma física. Debaixo do paletó, um suéter preto de gola alta. E, bem, a
verdade é que matutei o que ele andaria fazendo na mata do Dyrehaven tão cedo,
ainda mais vestido daquele jeito. Acho que estava com um cachorro, ainda que eu
não tenha visto nenhum...”
O velho diria aquilo, e aí a polícia teria a pista. Marcus se afastou da trilha na
mata e se deslocou até um tronco caído e uma moita. Do alto do morrinho, ainda
via o velho de longe. David, ofegante, estava logo atrás de Marcus.

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