A Santa Aliança

(Carla ScalaEjcveS) #1

da monarquia, da substância mesma do país. Talvez desse certo; talvez não. Em
todo caso, o que estava em jogo era importante demais para que se corresse tal risco.


Marcus esperou até ter certeza de que ninguém podia vê-lo. Então, esgueirou-se
pelo lado do Mercedes escuro e seguiu colado às paredes da casa. Chegou a ver dois


nomes na caixa de correio, que dava para a rua: “ELLEN BLIKFELDT E HANS PETER
ROSENKJÆR”. Havia uma esposa. Isso não era bom. “Mas não há pressa, Marcus”,
disse a si mesmo, para se tranquilizar. “Desde que ninguém tenha encontrado o
corpo na mata, Hans Peter Rosenkjær não terá motivo para ficar matutando, e
muito menos para comentar com alguém que, hoje de manhã mesmo, tinha visto
na floresta um homem bem-vestido.” Um homem que o tinha cumprimentado e
sorrido para ele. Que lhe tinha dado bom-dia e depois chamado o cachorro.
Viu Hans Peter dentro da casa. O velho, de roupão e cachimbo, cruzou a sala e
sumiu. Marcus o olhou por uma janela aberta: estava no chuveiro. Viu o vapor que
se filtrava pela janela e subia para o céu, como se uma nuvem tivesse sido apanhada
nos encanamentos e encontrasse enfim o caminho de casa. O velho cantarolava
“Everybody Loves Somebody”. O sol brilhava, o banheiro era um lugar perfeito.
Hans Peter cairia ao sair do chuveiro, bateria a cabeça, sangraria até morrer. Antes,
porém, Marcus precisava assegurar-se de que a mulher não estava em casa.
Aproximou-se das portas que davam para a varanda. Deu uma olhada no interior:
móveis já antigos dos designers dinamarqueses Børge Mogensen e Arne Jacobsen.
Uma mesa de jantar comprida, sobre a qual se amontoavam livros. Não se via
ninguém em parte alguma. Verificou a porta. Estava trancada. Marcus usou o lenço
para limpar a maçaneta e eliminar as digitais; o assassinato deveria ser perfeito,
definitivo, não como o da noite e o da manhã – uma coisa feita nas coxas,
repentina, desesperada. Não, não. Precisava fazer direito, pela pátria.
Rodeou a casa até a porta de serviço. A hera subia pelas paredes do velho chalé de

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