prisão de adversários, desterros, críticos silenciados das maneiras mais selvagens,
corrupção. A Casa Real tinha deixado um verdadeiro rastro de sangue através da
história, e ninguém parecia preocupar-se com isso. Eva imaginou como teriam
sobrevivido a todos os escândalos. A primeira explicação que lhe ocorreu foi que
antigamente eles não vinham à luz. Naquele tempo, não havia meios de
comunicação para cobrir os fatos, não havia transparência, não havia internet. Mas
não; a explicação não era boa. Mesmo agora, quando o mundo estava soterrado sob
tantos meios de comunicação que tinham a obrigação de preencher com histórias e
escândalos as vinte e quatro horas do dia, a Casa Real, grosso modo, safava-se.
Um livro velho, de capa gasta. Eva leu sobre as casas reais europeias, as ligações
entre elas. Que a casa real britânica, tal qual a dinamarquesa, era de origem alemã
na realidade. Que as grandes famílias europeias repartiam os países entre si: em
1862, o rei da Grécia, que era alemão, foi deposto e um referendo levou à escolha
do príncipe dinamarquês Guilherme, que era filho do futuro Cristiano IX e de
Luísa, ambos alemães. O príncipe se tornou o rei Jorge I da Grécia por cinquenta
anos. E seu pai seria coroado rei da Dinamarca, um desfecho já determinado mais
de dez anos antes, porque Frederico VII não tinha herdeiros e o czar decidiu que um
príncipe alemão deveria reinar em Copenhague. Eva leu tudo por cima. Confundia
os nomes – eram tantos! A Casa de Wettin...
- Nunca ouvi falar – sussurrou para si mesma, embora acabasse vendo que essa
dinastia alemã reinou na Bulgária, Polônia, Grã-Bretanha e Bélgica, e era
aparentada havia muitos séculos às casas reais da Dinamarca, Espanha e França. Eva
leu que qualquer europeu de sangue azul podia encontrar vinte reis ou rainhas entre
os antepassados. Os membros das casas reais, sem exceção, estavam unidos por laços
de sangue. Formavam uma linhagem que remontava a mais de um milênio.
Era impossível ler tudo. Levaria anos. Eva folheou o livro. Alguém tinha
sublinhado certos trechos com esferográfica vermelha fazia muito tempo, talvez
vinte anos. Eva se limitou então a ler o que estava sublinhado. “Casa Real.” “Tráfico