um ruivo.
- Que estranho! – disse Eva em voz alta, e deixou o desenho na mesa enquanto
procurava o saca-rolha. - Você disse alguma coisa?
Eva ouviu a voz de Pernille no viva-voz. - É um desenho que um dos meninos fez. Acabou ficando na minha bolsa.
- Que fofo!
- Hã? É, talvez. Mas como foi parar na bolsa?
Eva ouvia o pai ao fundo. - Como foi tudo? – ela o escutou sussurrar para Pernille.
- Bem. Um dos meninos deu um desenho de presente para ela.
Eva revirou as gavetas meio vazias em busca do único utensílio de cozinha de que
não podia prescindir. Lá estava ele, com as facas, ainda com a rolha da noite em que
tinha largado a casa, tanto tempo antes. Tirou a rolha com quatro giros muito
profissionais do pulso, ou assim lhe pareceu, e pôs de lado o saca-rolha, que caiu no
chão com ruído desproporcionalmente forte para algo tão pequeno. - O que aconteceu? – perguntou Pernille.
- Pernille?
- Sim?
- Se amanhã à noite eu não achar o saca-rolha, lembre-me de que ele caiu no chão
e escapuliu para debaixo do fogão. - Pode deixar; não se preocupe.
Eva foi para a sala com o desenho, um copo, a garrafa e o celular preso entre a
orelha e o ombro. - Pronto. Estou sentada.
- Conte tudo!
- Eram todos muito fofos. Umas crianças muito fofas. Os adultos também –
disse, e pensou em Kamilla, a que não queria entrar para trabalhar até que levassem