A Santa Aliança

(Carla ScalaEjcveS) #1

Tinha voltado para casa e corrido a ligar para o Hotel Villa Maria? Mas para quem
lá? Para quem a gente telefona em hotéis na Itália? Para uma amante? Para alguém
que tinha alguma coisa a ver com a morte dele? Talvez.
Lisa estava diante dela. Eva desligou.



  • Você é uma dessas esquisitonas? – disse a corretora, muito irritada.
    Eva olhou pela janela. O homem tinha sumido. Não estava mais do outro lado da
    rua.

  • Uma dessas que gostam de ficar fuçando a casa dos outros? Então, já podemos
    ir embora?
    Lisa vinha atrás dela. Trancou cuidadosamente a porta. Eva ficou sozinha em
    frente à casa. Não via o homem em parte alguma. Teria sido imaginação sua? O
    corte de cabelo quase a zero... Paranoia?
    Ali – um ponto de ônibus. E estava chegando um ônibus. Paranoia ou não,
    precisava estar entre outras pessoas. Um escudo humano. Atravessou a rua no
    último instante, bem quando o ônibus chegava. Depois olhou por cima do ombro.
    Entrou no coletivo; não tinha bilhete, mas o motorista não ligou. Eva aproveitou o
    tempo até a Praça da Prefeitura para ter raiva de si mesma. Era a última vez que não
    seguia as recomendações de Lagerkvist. Por acaso ele não tinha mandado que não
    usasse a internet?
    “Para começo de conversa, esqueça a internet”, ele tinha dito. A partir de agora,
    seguiria as leis de Lagerkvist. “Eva, você é uma idiota.” Para gente com o
    equipamento adequado, seguir um rastro eletrônico é tão simples quanto seguir
    pegadas na neve. E tinham o equipamento; isso Eva pouco a pouco tinha
    compreendido. “É, aprendi a lição. Só peço que você me ajude a superar o dia de
    hoje, Lagerkvist.”
    Desceu do ônibus. Pegou um trem. Depois pegou metrô e táxi. Quando já tinha
    anoitecido, juntou coragem para voltar para casa. Ao submarino. E imergir.

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