A Santa Aliança

(Carla ScalaEjcveS) #1

de sangue. Malte tinha tentado desenhar alguma coisa por trás dos dois homens.
Um rosto? Uma espécie de animal? Um rosto. Estranhamente distorcido, tétrico.
Perguntou a si mesma por que tinha trazido o desenho para casa. Não, essa não era
a pergunta certa. A pergunta pertinente era por que não se lembrava de ter trazido.
Alguém teria enfiado o desenho na bolsa? O menino, talvez? Mas por que o teria
feito? Quem sabe um dos adultos? O que o menino queria contar-lhe? Claro,
dificilmente um assassinato; mas talvez outra coisa. Que alguém havia machucado
outra pessoa? Por isso Anna tinha reagido de maneira tão esquisita quando Eva lhe
disse que era jornalista? Estaria acontecendo alguma coisa suspeita na instituição?
Tentou reconstituir o dia no Pomar das Macieiras depois que Malte fez o
desenho: a polícia tinha ido embora, e Anna voltou a ter tempo para dedicar a Eva.
Tinha lhe mostrado a instituição. Eva ainda estava com a bolsa do lado, às costas;
disso tinha certeza. E Malte? Tinha ficado na sala de aula, talvez no parquinho, mas
ninguém tinha tido acesso à bolsa de Eva. De mais a mais, Malte tinha levado o
desenho quando se levantou da mesa e saiu correndo. Sim, ele tinha começado a
chorar e saíra correndo da sala com o desenho na mão. Anna tinha voltado, e Eva,
pegado o casaco e a bolsa para segui-la. Tinha olhado em torno, procurando o
menino, e tentado prestar atenção ao que lhe dizia Anna, mas esta lhe falava de
materiais sustentáveis, da política de reciclagem do Pomar, uma instituição com
princípios claros. Depois Eva tinha estado na cozinha e, ali, pendurado o casaco e a
bolsa. Seria o lugar onde trabalharia.
Interrompeu a rememoração do primeiro dia na creche, serviu-se de mais vinho e
olhou para o desenho, o sangue, o ruivo em cujas costas fincavam alguma coisa e
cuja cabeça sangrava. Estava mesmo inteiramente certa de não ter pegado o
desenho? Por outro lado, por que o teria feito? Sim, é verdade, falava sozinha e
falava com Martin, mas era justamente para não ficar louca. Estava muito
consciente disso. E, sim, tinha visto Malte levantar da mesa e sair correndo com o
desenho na mão. OK, muito bem. Mas, então, como diabos o desenho tinha

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