A Santa Aliança
Marcus respirou fundo.
- Você não está me entendendo – disse. – Preciso ajudá-la. Não posso explicar
agora, mas essa coisa não está certa.
- Não está certa? E você me diz isso agora? Eu já tinha dito que não estava certa
no caso do velho, lá nos banhos. E no do jornalista.
Marcus ouviu o molho de tomate ferver na cozinha.
- A coisa estava certa no caso deles, e tudo bem que você esteja contra mim agora.
Estou fora, David.
- Você não é dono do seu destino.
- É, não sou. Tem razão. Não sou dono do meu destino. Estou fora. Você
continua dentro. Ainda precisa se defender de gente como eu. Não consigo pensar
em outra coisa; só nela. Agora estou no meu direito. Você entende? Quero salvá-la.
- Eu entendo é que você bateu a cabeça, isso sim.
- Ajude-me. Pelos velhos tempos. Eles têm alguma pista? Você sabe onde ela está?
David balançou negativamente a cabeça.
- Você não quer dizer? Ou eles não sabem?
- A gente não pode falar sobre isso.
- Quem não pode? Eu e você?
- Você falaria comigo se a situação fosse inversa?
- Eu não lhe contaria nada, nem uma palavra. Iria me livrar de você na mesma
hora. Avisaria os outros. Delataria você. Provavelmente o mataria.
David, magoado, baixou os olhos. Não tinha sido a intenção de Marcus. Este deu
um passo à frente e abraçou o velho amigo. Os braços de David apenas pendiam,
frouxos.
- Faça-me um pequeno favor – cochichou Marcus no ouvido de David.
David quis afastar-se, mas Marcus o segurou. Continuou cochichando; nunca se
sabia quem podia estar escutando.
- Quando a acharem, avise-me. Tire da janela o vaso de flor. Vai ser esse o sinal.