A Santa Aliança

(Carla ScalaEjcveS) #1

desenhado.
As crianças estariam lá, junto com milhares de outras crianças e adultos. Eva
subiu pela escada rolante da estação de metrô, atravessou a rua, passou quase
correndo em frente ao Teatro Real, pegou a Bredgade e virou na Frederiksgade.
Estava quase sem fôlego quando chegou à grande praça do complexo de palácios de
Amalienborg. Era uma religião, pensou Eva ao ver a multidão que tinha se
congregado na praça; uma religião com a mesma força de atração, o mesmo
magnetismo, da Caaba em Meca – uma peregrinação que todo fiel deveria realizar
pelo menos uma vez na vida. A maré humana a empurrou para o meio da praça,
entre os quatro palácios, onde enfim Eva encontrou o que buscava, o centro do
poder. Era impossível avançar ou retroceder. Os turistas insistiam em filmar tudo
para levar para Tóquio ou Madri. As crianças tinham a bandeira dinamarquesa
pintada nas faces, como se aquilo fosse um jogo da seleção nacional de futebol.
Muitos seguravam bandeirinhas da Dinamarca. Um furgão da TV2 estava
estacionado à entrada de um dos palácios, junto com um punhado de
radiopatrulhas. Técnicos estavam desenrolando cabos e instalando câmeras. No
alto, sobrevoando a praça, um helicóptero dava voltas como uma ave de rapina
cheia de fúria; e, embora a multidão ocultasse Eva, ela sentiu uma pontada de
pânico. “Será que conseguem me ver no meio desta gente toda?!” E se tranquilizou.
“Não. Se estiverem mesmo aqui, vão ter outras coisas com que se preocupar.”
Terroristas, agitadores, ativistas, gente que queria atingir a rainha. Só que não – não
era assim. A única pessoa que queria atingir a rainha, ou simplesmente trazer a
verdade à luz, era Eva. Os outros queriam todos protegê-la. Como na lenda do rei
dinamarquês que recebe um czar ou imperador no cais de Copenhague. O monarca
estrangeiro não entende onde está a Guarda Real: “Quem te protege?”, pergunta,
assombrado. “Todo mundo!”, responde o rei da Dinamarca, fazendo um gesto para
seus súditos. “O povo me protege!”
“É, todos”, pensou Eva. Todo mundo ali em volta protegeria a rainha. Fariam

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