a porta e deixar Eva passar. – Como eu disse, você tem menos de meia hora.
“Um objeto letal”, pensou Eva. Era justamente o que estava procurando. Depois
concluiu que a escuridão a protegeria e que melhor seria se apagasse a lanterna.
Subiu a escada principal, a mesma que ministros e chefes de Estado subiam para a
recepção de Ano-Novo e os outros jantares de gala no palácio. Eva tinha visto
aquilo muitas vezes na TV. Havia visto como os mandachuvas, os mais importantes
formadores de opinião e a fina flor da elite cultural do país chegavam ao palácio
com olhar cheio de expectativa e perplexidade. Era a sensação de estar entre os
escolhidos.
Eva não ousava tocar em nada, como se fosse turista em visita guiada, uma
estranha que se perdeu do grupo. O tapete absorvia a maior parte do barulho que
seus passos produziam. No alto da escada, parou e olhou para o relógio de pulso.
Eram dez e trinta e cinco. A próxima ronda do guarda seria às onze. Passou em
frente a alguns espelhos de vários metros de altura e deu uma olhada para a praça do
complexo de Amalienborg. Um solitário ciclista cruzava, inseguro, as pedras do
calçamento. As sentinelas da Guarda Real estavam tão imóveis que pareciam
estátuas. Eva aguçou os ouvidos. Eram vozes? Passos? Não, nada. Experimentou a
maçaneta da porta que tinha diante de si e entrou. O piso era de madeira antiga e
envernizada; toda vez que Eva pisava, ouvia-se um pequeno rangido. Tirou os
sapatos e os levou na mão.
O luar entrava pela janela, sendo apenas suficiente para que pudesse ver onde
estava – uma antecâmara menor do Salão Chinês. Havia uma mesa ornamentada,
com cadeiras de espaldar alto. Quadros antigos. Talvez seis ou oito metros até o
teto. Rococó. Eva não entendia muito de arquitetura, mas os leitores do Berlingske
gostavam de ler sobre belas residências, decoração sofisticada e arquitetos
badalados, e certa vez ela tinha escrito uma matéria sobre o rococó. Se bem