lembrava, esse estilo tinha, entre outras influências, a da arte oriental. Formas
sinuosas inspiradas na natureza. Eva olhou para o antebraço, consultando o guia
que a irmã de Rigmor tinha desenhado. Continuava sem ouvir nada. Era como
passear sozinha por um museu altas horas, com o cheiro das pinturas nas paredes e
do verniz no piso. Pelo tipo de museu que a gente visita no último dia das férias
numa grande cidade europeia, longe do centro, meio entediada porque já viu o
Louvre, a Gemäldegalerie e a Tate Modern. Precisava seguir em frente. A porta
estava entreaberta; fez apenas um leve ruído quando Eva a abriu e passou ao Salão
Chinês propriamente dito. Escuridão. Quadros enormes, talvez de mercadores
chineses, de algum mercado de antigamente no Extremo Oriente. Contornos de
mesas e cadeiras elegantes. Uma espécie de poncheira no centro – quem sabe
presente de algum imperador chinês?
Eva atravessou o salão e parou em frente a outra porta. Vozes. Fracas, mas tinha
certeza de que as ouvia. Não no recinto seguinte, mas mais para dentro do palácio.
Talvez no Salão dos Cavaleiros? Ou mesmo no Salão Rosa, que, pelo desenho feito
à mão, era o recinto mais distante? Eva abriu a porta e se esforçou para fazer o
mínimo de ruído. Tinha vontade de acender a lanterna, de poder orientar-se ali,
mas sabia que o risco era grande. Por isso, resolveu ficar parada em frente à porta,
prestando atenção. Sim, ouviam-se vozes, distantes e indistinguíveis como uma
nuvem de moscas. De longe, Eva ouvia palavras e sons que mãos invisíveis pareciam
transportar através do ar. Um cômodo menor, não muito diferente daquela
primeira antecâmara. Foi para a porta seguinte. Cada vez mais, aproximava-se das
vozes. Alguém ria. Onde? Eva parou, completamente quieta. Passos, alguém que
vinha direto para onde ela estava. O sofá – deveria deitar no chão atrás dele? Era o
único esconderijo. Eva já ia para lá quando, de repente, os passos se interromperam.
Continuou em silêncio, certificando-se de que não precisava mesmo esconder-se,
tentando juntar forças para seguir adiante. Já estava no palácio havia quanto
tempo? Quinze minutos? Nesse caso, o guarda-noturno logo daria início à ronda.
carla scalaejcves
(Carla ScalaEjcveS)
#1