A Santa Aliança

(Carla ScalaEjcveS) #1

talvez. Subiu, não era difícil; o menino também poderia ter subido. Além disso, a
rainha e as irmãs faziam o mesmo quando eram pequenas; Rigmor tinha explicado
tudo. Agora as vozes eram mais nítidas. Um homem dizia algo na linha de que não
demoraria muito a ir para a cama. O riso de uma mulher. Eva olhou para a placa de
vidro, para o quadro pintado nela. Era uma pintura de bichos. Papagaios ou araras;
um símio. Rigmor tinha contado que o quadro se abria com dobradiças, que ele
podia servir de alçapão de parede. Através do vidro, Eva viu as costas de um homem
de smoking, grisalho, ombros estreitos. Ela fechou os olhos por um momento,
relegou as vozes para segundo plano e pensou.



  • Pois muito bem – murmurou. – O menino que não consegue dormir está
    sentado bem aqui. O nome dele é Malte. A mãe está dormindo lá num dos quartos
    de hóspedes. Ele tem medo, porque está testemunhando um bate-boca violento aí
    no salão. E vê tudo por este vidro. Sim, aproxima a cabeça do quadro, olha pelo
    vidro, vê que os sujeitos discutem, que eles gritam, que estão ameaçando Brix. A
    conversa tem a ver com a irmã dele; estão dizendo que, se Brix cair fora, a irmã
    também será afastada. Andaram bebendo; quem empurrou quem primeiro? Brix
    vai para o chão, com um sujeito por cima. Esse outro é grande, pesado, e Brix
    arrebenta a nuca... Onde?
    Eva olhou para o homem que estava de costas no Taffelsalen. Viu como ele sumia,
    como saía do campo de visão. Aí, viu também o que havia atrás dele no salão.
    Nisso, as luzes se apagaram, e as vozes se desvaneceram.
    Eva aguçou os ouvidos. Tinham fechado a porta? É, tinha quase certeza disso.
    Esperou mais um momento, juntando coragem antes de deixar o esconderijo.
    Desceu do descanso, desceu a escada, saiu para o pequeno corredor. Ficou quieta
    um instante e tornou a prestar atenção antes de abrir a porta para o Taffelsalen.
    Aproximou-se do... Sim, o que era mesmo aquilo? Acendeu a lanterna. Dirigiu o
    facho para o objet d’art que tinha diante de si. Parecia uma escultura. Era a figura
    que Malte tinha tentado desenhar e que Eva tinha tomado por um rosto? Era um

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