fuçando. Os envolvidos tinham discutido por quê? A imprensa exigiria respostas,
faria interrogatórios, ameaçaria com o descrédito, pediria transparência, tudo
aquilo que um lugar como Amalienborg não queria.
E se Brix ainda não tivesse morrido naquela altura? E aí? O que teriam feito com
ele? Não recebeu socorro nenhum, isso Eva sabia. Não chamaram médico nem
ambulância. Talvez até o tivessem ajudado a fazer o derradeiro trajeto, a passagem
para o grande silêncio. Mas de que jeito? Cobriram-lhe o rosto com uma almofada?
Ou uma coisa mais simples – uma mão sobre o nariz e a boca, uma mão forte que
pressionou com força, cortando por completo a respiração, não dando nenhuma
chance àquele homem já gravemente ferido, que ficou apenas esperando a
escuridão? As coisas teriam mesmo transcorrido assim? Era isso o que tinha visto o
menino, a única testemunha? Antes de ele fugir escada abaixo, fora de si, aos
tombos, de volta ao quarto de hóspede onde dormia a mãe e onde se refugiou outra
vez no sono, num lugar em que tudo o que tinha presenciado não era mais que
pesadelo? Eva visualizava uma sucessão de novas imagens. Homens que levam o
corpo de Christian Brix para fora do palácio. À noite, sem praticamente ninguém
que possa ver. Colocam o corpo num carro; discutem a situação. E agora? Suicídio,
propõe um deles. Outro lembra que Brix acaba de se divorciar. Divórcio e suicídio
são unha e carne. Já fora de Amalienborg, um deles se mostra mais resoluto e
lembra que precisam passar pela casa de Brix para pegar a espingarda de caça.
Depois disso, a floresta do parque de caça. Um lugar qualquer. Não, não qualquer
lugar. Precisam adentrar a mata. Chuva, água que cai torrencialmente e que vai
apagar todos os rastros, o cano da espingarda na boca do morto, apertar o gatilho,
fazer os miolos da pessoa voarem em mil pedaços. Um deles propõe a história do
torpedo. Mas para quem? Para a irmã, é claro. Para dissipar qualquer dúvida. Aqui,
apoiado contra essa árvore na parte mais profunda da floresta, um homem resolve
acabar com a própria vida. Despedir-se de modo rápido e brutal. Quem pode pôr
isso em dúvida? Quem será capaz de duvidar que as coisas aconteceram exatamente
carla scalaejcves
(Carla ScalaEjcveS)
#1