Abrigo de mulheres – 22h55
Mais cansada que aliviada, e ainda assustada. Era assim que Eva se sentia quando
se aproximou do lar para mulheres. Alguém a teria seguido? Alguém a teria visto?
Podia confiar em Rigmor e na irmã? Talvez alguma câmera de vigilância no portão
quando saiu do Palácio Moltke. Algum guarda que a tivesse visto quando ela abriu
a porta e atravessou a praça do complexo. Talvez alguém a tivesse visto de uma das
janelas. De fato, ao se voltar, tinha divisado uma silhueta numa das janelas do
Moltke – ou aquilo era apenas sua paranoia, que se recusava a ir embora?
Uma coisa sabia com certeza: naquela ida ao palácio, tinha conseguido algo. Não
estava orgulhosa, porém. Rico havia dito que lhe faltava talento, que ela era uma
palerma que tinha progredido graças à aparência e à habilidade em usá-la, uma
figura que não se preocupava com a própria ausência de conteúdo porque ninguém
se preocupava com aquilo, porque para todo mundo dava na mesma desde que Eva
continuasse sorrindo docemente, usasse roupa justinha e fosse para a cama com as
pessoas certas. Será que Rico tinha razão?
Agora, entretanto, sabia de algo. Algo pelo qual tinha lutado. Sabia de uma
verdade. Precisava escrever a matéria em que contaria toda a história. No dia
seguinte, quando tivesse recuperado a calma, Eva a escreveria. Contaria tudo sobre
o assassinato de Christian Brix, o palácio como local do crime, o abuso de poder, as
estruturas de poder dignas de uma republiqueta de bananas. Escreveria sobre a
polícia, que obstruía a investigação, se prostrava aos pés da família real e obedecia a