Palácio de Christiansborg, Copenhague – 14h15
Chegou atrasada. Os outros, que também receberiam algum tipo de
condecoração naquele dia, já ocupavam seus lugares nos bancos, em frente à porta
dupla de carvalho. Teve tempo de receber as últimas orientações, dadas em tom
instrutivo – amável, mas firme – por um camareiro, um senhor trajado para a
ocasião, com solenidade e sisudez. Eva estudou as outras pessoas presentes
enquanto lhes diziam que não deveriam dar as costas para a rainha ao sair. Que
estariam a sós com a rainha. Que a audiência poderia estender-se de alguns minutos
a um quarto de hora, talvez mais, embora isso só acontecesse em raras ocasiões. Eva
tentou adivinhar quem eram os outros que também tinham sido convocados para
receber comendas de cavaleiro e medalhas do mérito. Eva não precisava ter-se dado
ao trabalho – o nome e o título ou ofício de cada um dos presentes eram
anunciados bem alto antes de entrarem para ver a rainha. O primeiro era um
prefeito. Seguiram-se um primeiro-secretário de partido, um catedrático e alguns
diretores e membros de diferentes conselhos de administração. Eva pensou no que
lhe tinham contado havia um tempo: que, quando começamos a subir de escalão,
eles nos deixam entrar. Pouco a pouco, a Instituição atrai seus súditos para cada vez
mais perto. Os críticos então se tornam aliados. Simples assim.
- Eva Katz – disse o camareiro, com voz clara e contundente.
Eva olhou para ele. Será que já a tinha chamado duas vezes? O homem parecia
impaciente.