quem pede desculpas. Em seguida, cochichou: – Às vezes, é quase como se
estivéssemos em guerra.
Riu e fechou a porta atrás de si.
Guerra.
Que termo mais esquisito. Teria sido por isso que Eva, sem querer, pensou na
mãe de Martin? Só faltava mesmo que alguém pronunciasse a palavra “guerra”? A
ideia lhe pareceu aterradora, e Eva percorreu com o olhar o escritório vazio.
Em muitos sentidos, Inge também era uma figura aterradora. Eva tinha pensado
isso já na primeira vez em que ela e Martin foram a passeio para o mar do Norte,
quando Eva ainda achava que nunca o perderia, que teriam pela frente uma vida
longa juntos. Tinha sentido que Inge lhe fazia guerra com as palavras, com os
olhares, com os sarcasmos, com as pequenas insinuações amargas que silvavam
como balaços perto da cabeça de Eva. Era a primeira vez que visitava os pais de
Martin. Eva seria “dada a conhecer”, como definira Martin com um sorriso irônico.
E ele a tinha prevenido: a mãe, por mais que estivesse só pele e osso, podia ser uma
mulher dura. Na primeira vez que se cumprimentaram e que segurou a mão seca de
Inge, Eva não conseguiu deixar de pensar no corpo descarnado do Homem de
Grauballe.[1] Foram apenas alguns segundos. Um esqueleto de cuja boca saíam
coisas mortas, frases que punham ponto-final em qualquer conversa, palavras que
cortavam toda comunicação. No entanto, Martin a amava, como todos os filhos
amam a mãe, de modo que Eva procurou não comentar. De mais a mais, Inge não
parecia estar lá muito entusiasmada com Eva. Sempre dava a entender que ela não
era boa o bastante para o filho. De fato, Inge plantara um monte de dúvidas sobre o
trabalho de Eva e havia feito outras tantas críticas a ele.
- O Martin diz que você é jornalista – tinha-lhe dito Inge, entre outras coisas,
sem dar nenhum tempo para que Eva respondesse direito.