Dossiê Superinteressante - Edição 406-A (2019-08)

(Antfer) #1
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a


A esquisitice começa pela estut-
ra: tecnicamente, não existem Exército,
Marinha e Aeronáutca norte-coreanos.
O Exército do Povo da Coreia nem é um
exército do país – é uma insttição do
Partdo dos Trabalhadores da Coreia,
que domina o país desde sua fundação
em 1946. É dento desse exército – sob o
comando direto do Supremo Líder King
Jong-un, que por conta disso também
tem o títlo de Marechal – que se lo-
calizam cinco departamentos: Força
Terreste, Marinha, Força Aérea, Força
de Foguetes Estratégicos e Força de
Operações Especiais.
Em números absolutos, 1,280 milhão
de atvos, é uma força respeitável – a
quarta maior do mundo. Mas fica maior
pondo em perspectva que, num país
com menos de 26 milhões de pessoas,
é 5% da população. Compare aos 0,16%
do Brasil, 0,4% dos EUA ou 0,1% de Ín-
dia e China. Fica ainda mais impressio-
nante quando você considera as forças
paramilitares, quase 6 milhões teina-
dos e potencialmente capazes – como a
Jovem Guarda Vermelha, universitários
que são obrigados a um regime de tei-
namento de quato horas por semana.
No fim das contas, 25% da Coreia do
Norte é militar ou paramilitar. E nem
contamos os militares na reserva, que

são mais de 6,3 milhões.
Mas a vantagem para no pessoal. Pre-
visivelmente, os equipamentos da Coreia
do Norte são principalmente armas dos
tempos da metade da Guerra Fria ou até
antes. O país opera tanques soviétcos
e chineses, inclusive 650 dos famosos
T-34 soviéticos da Segunda Guerra.
Mas também um número considerável
de duas criações locais, o Chonma-
-ho, atalização do T-62 soviétco, e o
Pokpung-ho, uma amálgama de vários
designs estangeiros - ninguém sabe o
quão eficientes seriam na prátca.
Os aviões também incluem algumas
peças incrivelmente vintage, como o
bombardeiro Ilyushin Il-28, que pri-
meiro voou em 1948, e outas menos,
como o MiG-29, de 1982.
A Marinha é caso ainda mais crít-
co. Com a Coreia do Norte tendo duas
costas separadas pela Coreia do Sul, e
sem acesso ao mar aberto, cada uma de
suas duas alas simplesmente não poderia
ajudar a outa em caso de guerra. Seus
navios são antgos e lentos – a maioria
do enorme número na página ao lado é
de pequenas lanchas de patulha.

arsenal de truques
O trunfo real da Coreia do Norte é,
já alvo de tantos embargos, nem ter a
intenção de jogar “limpo”. Toda sua es-
tatégia, em que pesem tantos soldados
e tantas armas convencionais, é basea-
da em guerrilha. Causar o maior dano
ao invasor, a ponto de tornar o ataque
inimigo politcamente insustentável.
Autoridades dos EUA e Coreia do
Sul afirmam que o país, mesmo tendo
assinado o Protocolo de Genebra, que as
proíbe, tem um arsenal considerável de
armas químicas e biológicas. Um indí-
cio disso teria sido o assassinato de Kim
Jong-nam, o irmão mais velho do líder
supremo, em 2017, com o agente ner-
voso VX. E, ente muita especulação,
surge até a exótca palavra “nano-armas”


  • o próprio Kim Jong-un acusou a CIA
    de tentar usar “nanoveneno” para as-
    sassiná-lo. Nanopartículas podem ser
    tóxicas sem causar reações químicas,


causando dano físico, mais ou menos
como amianto nos pulmões, só que
mais rápido. A famosa “buckyball”,
C-60, uma bolinha geodésica de car-
bono, pode destuir células ao contato.
Ficção científica? Que tal um fuzil
laser? O “fuzil” ZM-87 tem mais de 20
anos. É uma criação chinesa dos anos
1990 e só é capaz de cegar, não cortar
alguém em dois. Armas desse tpo são
proibidas pelo Protocolo de Banimento
de Armas Laser Cegantes da ONU, de


  1. Podem mutlar pilotos sem volta,
    mas também ser usadas para destuir
    sistemas de infravermelho.
    Outa arma exótca: torpedos huma-
    nos: com um mergulhador montado em
    cima, numa cadeira e exposto, são pilo-
    tados até o alvo. O mergulhador salta
    antes do impacto. Isso foi usado com
    sucesso na Segunda Guerra por italia-
    nos, alemães e ingleses. A história foi
    contada pelo dissidente Kang Myung
    Cheol, ao aparecer num barco de madei-
    ra na Coreia do Sul em 2010. Ele ainda
    falou que os pilotos são teinados para
    sobreviver em alto-mar por tês dias.
    Mas a cereja do bolo, é óbvio, são as
    armas nucleares. Apesar das ameaças e
    tentatvas desde o seu primeiro teste, em
    2006, os líderes norte-coreanos sabem
    muito bem o quanto a sobrevivência de
    seu regime depende delas. Era então uma
    arma primitva, de primeira geração. Em
    2017, fizeram um teste do que disseram
    ser uma bomba termonuclear, imensa-
    mente mais potente. Autoridades inter-
    nacionais, que avaliaram o resultado pelo
    abalo sísmico causado, não chegaram a
    um consenso se foi mesmo um artefato
    desse tpo. Tenham o que tenham, o
    míssil mais potente da Coreia do Norte,
    o Hwasong 15, supostamente é capaz de
    atngir Washington.
    É sob essa posição que as negocia-
    ções com o país ermitão estão andando.
    Em 30 de junho, Donald Trump se tor-
    nou o primeiro presidente americano
    a pisar no solo do país, junto com o
    presidente sul-coreano Moon Jae-in.
    O plano é desnuclearizar e integrar a
    Coreia do Norte. Mas o país irá aceitar
    abrir mão de seu único tunfo?


País-ermitão é cheio de
peculiaridades também
em suas Forças Armadas.
Por Fábio Marton

Exércitos do mundo coreia do norte


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