— 41
A Índia vem de uma tradição de completa independência
geopolítica para se firmar como potência autônoma –
contra a China. Para isso, está se armando rapidamente.
Por Fábio Marton
O
O radar detecta a presença inimiga
se aproximando. Arcaicos MiG-21 – um
projeto soviétco de 1959 – espalham-se
pelos céus da Caxemira. Conta eles,
F-16s puro-sangue americanos, projeto
de 1978. Começa o dogfight. Canhões
são disparados, mísseis voam, conta-
medidas iluminam o ar como fogos de
artíficio, tentando confundir os mísseis.
Todo mundo erra o alvo. Menos dois:
um MiG termina abatdo, mas o piloto
consegue se ejetar. Também vai ao chão
um F-16 – e desse não sabemos nada.
Seu país nega sequer o fato de estar
nessa batalha.
Duas perguntas: 1) quem era a de-
mocracia, o lado com os caças russos
ou americanos? 2) quando foi a batalha?
A democrátca Índia operava os caças
russos, que também eram acompanha-
dos por Sukhoi 30, um projeto soviétco
de 1989 que só começou a operar em
- E o Paquistão – saído de sua últ-
ma ditadura militar em 2008 – estava
com os caças americanos, acompanha-
dos por sua vez por JF-17s, espécie de
clone chinês-paquistanês do F-16.
Foi em 27 de fevereiro deste ano. A
invasão aérea paquistanesa, que preten-
dia atngir alvos em território indiano
com bombas, era em retaliação a uma
incursão indiana no dia anterior, que,
segundo a Índia, destuiu um campo
de teino do grupo jihadista Jaish-e-
Mohammed. Responsável por um aten-
tado com carro-bomba conta o Exér-
cito indiano, que deixara 40 mortos,
11 dias antes.
Ninguém declarou guerra. Mas, com
toca de tros de morteiro, fuzis e me-
talhadoras, o conflito contnua vivo
no instante em que este texto é escrito.
Paz pela espada
Esqueça Gandhi – e ele provavelmente
não ficaria mesmo muito feliz com tdo
o que vai adiante. A Índia é um país que
historicamente foi epicento de inúme-
ros conflitos, com uma vastíssima ta-
dição militar. E, neste momento, nação
extemamente armada e disposta a exi-
bir seus dentes. Tem, afinal, o segundo
maior Exército do mundo, o maior nas
mãos de uma democracia, com mais de
1,3 milhão de soldados. E suas palavras
são respaldadas por armas nucleares.
A posição da Índia mosta a comple-
xidade das teias de alianças do mundo
de hoje. Como desde a Guerra Fria, o
país tenta se manter mais ou menos
equidistante ente Ocidente, Rússia e
Irã, ente o mundo árabe e Israel. A Índia
tem como maior rival um país que já foi
parte de seu território, nos tempos do
domínio britânico. Por toda a história até
1947, o Paquistão era a parte noroeste da
Índia, com maioria islâmica. Para gran-
de desgosto de Gandhi, o país acabou
dividido em dois, por um critério reli-
gioso, levando a uma toca massiva de
populações – islâmicos para o Paquistão
e hindus para a Índia. Esse inimigo, o
Paquistão, é um aliado da Otan, mas a
Otan não quer saber dessa rixa.
O segundo grande inimigo é nin-
guém menos que a China – à qual a Ín-
dia democrátca tenta fazer frente, para
achar seu nicho como grande presença
militar na Ásia.
As Forças Armadas indianas são com-
postas exclusivamente por voluntários.
Desses, um número desproporcional
Patka
—
Elmo único no mundo,
desenvolvido especial-
mente para combaten-
tes na fronteira com o
Paquistão. Protege bem
contra tiros de AK-47
dos terroristas islâmicos
que operam na região –
a espuma dentro ajuda
a diminuir o impacto.
Seu formato permite
aos sikhs usá-lo com
um turbante por baixo.
akM
—
Versão do velho e bom
AK-47 atualizada em
- Em processo
de substituição pelo
AK-200, a última versão
da mesma família.
UniforMe
—
De materiais sintéti-
cos, vem em variantes
com camuflagem para
floresta e deserto.
Coletes só foram
adotados em 2016, em
versão relativamente
simples, protegen-
do até a virilha.
O sOldAdO
IndIAnO
Exércitos do mundo índia e paquistão
0
0