Sabor Club - Edição 32 (2019-09)

(Antfer) #1

58 | Sabor. club [ ed. 32 ]


Formado em Relações Internacionais e
cantor, ele divide com o tio Sérgio Fonchaz,
doutor em Filosofia e guitarrista, não apenas
o palco nas apresentações de rock da banda
que foi o estopim da bebida para a
dupla, mas a criação da Sundog
Brewing, cervejaria de feições
inéditas no Brasil.
O ‘bappir’ citado no texto
poético da Suméria, por exemplo,
é uma espécie de pão, ou barra de
cereais de outrora, que era assada
com mel e misturada na água para
a fabricação da bebida. Pois
saiu outro dia do forno na
feitura da cerveja que será
lançada na edição 2019
do Mondial de La
Bière do Rio.
“Fizemos o pão
sumério com trigo,
cevada e mel, e
fabricamos o vinho de
tâmaras que também está
nas inscrições descobertas
por arqueólogos, adicionando
especiarias como o açafrão. A cerveja
era semelhante a um mingau. Reduzimos a
densidade, mas ainda ficou bem encorpada e
com cerca de 7%
de teor alcoólico”.
Entre os estudos da dupla, que na base de
pesquisa, e-mails e Skype despertou o interesse

de professores e historiadores de países como
Alemanha, Dinamarca e EUA, destacam-se
cervejas veneradas pelos fãs e seguidores da
Sundog como a Sahti, cujo nome se refere à
antiga tradição nórdica, e a Hella, uma
Dampfbier, estilo alemão rural do
século 19 (veja quadro).
Sundog, aliás, significa
“caça ao sol” e remete à lenda
escandinava do dia e da noite,
onde lobos gigantes perseguem
o sol e a lua, os fazendo girar.
Assim como o povo que
frequenta as batalhas de
bandas, promovidas pelo
Arthur e pelo Sérgio,
no alternativo Cine
Joia, em Copacabana.
O programa, não
raro, inclui misturas
audiovisuais como a
exibição de O Magico de
Oz com trilha sonora do
disco The Dark Side of The
Moon, do Pink Floyd.
Agora, a próxima série da
Sundog vai deixar de lado as históricas
e focar em criações próprias de extremas
criatividade. Por exemplo, uma IPA baseada
em rituais de índios norte-americanos, com
sementes de peiote (cacto com propriedades
alucinógenas) na receita, e uma Stout com
cacau, canela, brandy e pétalas de rosas

Indianas
Jones
A história dos caçadores da
cerveja perdida começou nos
ensaios da banda que tem o mesmo
nome da cervejaria, e a ideia de
produzir a bebida para os encontros,
que passaram a lotar de amigos com
copos na mão. “Mergulhamos em
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cursos de fabricação disponíveis”,
lembra Arthur Chagas, com a
aprovação do Sergio
Fonchaz.

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Caldos medievais
Receitas milenares
usam até água com as
características dos lugares
onde foram criadas

-IPPE – É uma
Dampfbier feita
com água do
sudeste da
Bavária (recriada
com os mesmos
parâmetros
químicos) e
maltes de cevada com
leveduras de cerveja de trigo.
Leve, maltada e aromática,
a bebida remete a uma
situação de pobreza e
escassez de trigo na fronteira
da Alemanha com a atual
República Tcheca: “Um
alemão nos procurou num
evento e agradeceu, dizendo
que teve que vir ao Brasil
para beber uma Dampfbier”.

Sahti – Receita
milenar com 11%
de graduação
alcoólica, para
ser bebida de
preferência
em cálice. Traz
características
sensoriais do vinho do
Porto, como o dulçor, as
especiarias e lembrança
de frutas secas.
“A receita só foi descoberta
em 1904, num drakkar viking
naufragado do século 9,
através de vestígios num
barril. Fizemos com água
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mosto com pedra quente
no bagaço do malte, o que
confere uma caramelização
diferente, utilizando junípero
(zimbro) e fermento de pão”,
explica Arthur Chagas.

Pictii – Para os
degustadores
com ímpeto
medieval, está
saindo um novo
lote da Sahti
fermentada
com hidromel,
no estilo celta Braggot,
consumido por volta
do século 10, com seus
“singelos” 20% de álcool.

Os cervejeiros
também promovem
sessões bem
distintas, como a que
exibe o Mágico de Oz
com trilha de
Pink Floyd
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