Adega - Edição 166 (2019-08)

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certo” [risos]. Naquela época, a vinícola se tor-
nou realmente famosa internacionalmente.
Entrei na empresa quando estávamos às vés-
peras de ganhar status internacional.

Como seu pai conseguiu mudar a visão das pessoas
sobre o vinho austríaco?
No tempo do meu avô, éramos muito pobres,
vivíamos na área mais pobre da Áustria, perto
da fronteira da Hungria. Havia a cortina de
ferro há cinco minutos, o fim do mundo oci-
dental. No começo, ninguém queria saber dos
nossos vinhos. Nos anos 1980, meu pai ia para
todas as feiras de vinho, e achava que era perda
de tempo, pois não conseguia levar as pessoas
certas para provar os vinhos. Nós não estáva-
mos no radar entre as áreas produtoras, muitos
sequer sabiam que produzíamos vinho. Então
meu pai criou uma artimanha. Ele quis fazer
uma prova em Londres, pois nessa época toda
a mídia de vinho estava em Londres. Seus
amigos disseram que seria perda de tempo e
dinheiro, pois as pessoas não iriam. Então, ele
fez um convite com letras garrafais: “Degus-
tação de Château d’Yquem” e, em letras pe-
quenas, “versus Kracher”. Todos apareceram.
Ele comprou várias safras de Yquem – o que

Seu avô fundou a vinícola em 1959, ou seja, em 2019
completa-se 60 anos. Seu pai colocou o nome Kracher
no mundo, mas faleceu precocemente. Como foi
assumir a empresa?
Assumi a vinícola quando tinha 27 anos, pois
meu pai morreu muito jovem, aos 49 anos, de
câncer. Eu já estava trabalhando na vinícola
ao lado dele desde que tinha 22 anos. Desde
2004, era seu braço direito, então estava bem
preparado. Sabíamos que meu pai estava
doente um ano antes de ele morrer, então tive
algum tempo para me preparar. Mas, ainda as-
sim, cinco anos antes trabalhei com meu pai
e com meu avô (faleceu em 2010), as duas ge-
rações anteriores. Ou seja, não parti do zero.

Você tinha boa relação com seu pai e seu avô?
Tinha uma boa relação com ambos. Mas o re-
lacionamento do meu pai com meu avô nem
sempre foi muito bom. Eles tinham a mesma
visão de qualidade, mas pensamentos dife-
rentes de como tornar o vinho popular. Mas,
enfim, tive a sorte de não lutar essa guerra en-
tre eles. Discutia com meu pai em algumas
coisas, mas, ao final das discussões, ele dizia:
“Só pode haver um dono na empresa e, como
estou pagando as contas, sou eu, então estou

Nessa
época,
descobri que
o nível de
qualidade
nunca é
alcançado,
sempre se
pode colocar
a barra mais
para
cima
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