Adega - Edição 166 (2019-08)

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Edição 166 >> ADEGA 15


lhe custou todo o seu salário de meses, pois na
época ele era viticultor apenas meio período,
no resto do tempo trabalhava na indústria far-
macêutica. Enfim, serviu lado a lado Yquem
e Kracher, e selecionou muito bem as safras,
assim todo flight foi vencido por Kracher. Foi
a primeira vez que a imprensa internacional
leu sobre nós e isso foi meio que a primeira
ruptura na cena internacional. Ele foi muito
esperto. Atualmente, nunca faríamos uma
prova dessas novamente, pois é o mesmo que
comparar maçãs e peras. Os vinhos são doces,
com botrytis, mas as regiões são totalmente di-
ferentes. Na época, porém, tínhamos que usar
qualquer truque.

Assim ficaram conhecidos?
Depois disso, as pessoas queriam conhecer
nosso vinho. Meu pai deixou seu emprego,
mas em 1992 houve uma geada extrema e
70% da safra foi comprometida, e, em 1993,
com as plantas ainda sofrendo, houve seca.
Ou seja, primeiro as pessoas não conheciam o
vinho, depois não tínhamos vinho [risos]. Mas
1994 foi ótimo, 1995 é considerada até hoje a
melhor safra do meu pai, e foi a primeira vez
que Robert Parker escreveu sobre a Áustria, e
aí houve a grande ruptura. Sempre digo que
Parker é o meu melhor amigo, apesar de nun-
ca o ter conhecido [risos].


Quando você começou a se interessar por vinho?
Quando tinha 18 anos. Disse para meu pai que
precisava de mais dinheiro, então comecei a
trabalhar limpando barricas, tanques, rotulan-


do, sendo motorista, o que precisasse. Nessa
época, também tínhamos uma segunda empre-
sa, que, na verdade, só agora é uma empresa,
antes era apenas diversão para meu pai: uma
importadora de vinhos. Comecei a entender de
vinho, pois gostava de provar. Lembro que num
domingo questionei meu pai se os alemães pro-
duziam grandes vinhos, pois eu só conhecia vi-
nhos baratos. Ele trouxe uma garrafa. Provei e:
“O que é isso?!” Era um Egon Müller Auslese.
Foi um clique. Daquele momento em diante
queria achar algo bom em todas as regiões do
mundo. Então economizava dinheiro com
amigos para comprar alguns vinhos de regiões

Em 2019, Kracher comemora 60
anos de fundação. Alois Kracher,
pai de Gerhard, foi quem colocou
os vinhos austríacos no mapa.
Para tanto, ele chegou a promover
uma degustação comparativa
entre seus vinhos e os do Château
d’Yquem
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