Adega - Edição 166 (2019-08)

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16 ADEGA >> Edição^166


“Você precisa terminar os estudos”. E eu: “É
impossível, não posso voltar. Não estou matri-
culado há mais de um ano”. Não nos falamos
por três meses, ele ficou furioso, mas, vendo
hoje, foi a decisão certa, pois, quando meu pai
morreu, se eu tivesse voltado, talvez sequer ti-
vesse terminado os estudos.

Você disse que, do ponto de vista qualitativo, nada
mudou em 60 anos, mas o que seu pai introduziu de
diferente em relação ao seu avô, por exemplo?
Cada geração tem sua própria escrita, de
como quer fazer o vinho, então muda-se um
pouquinho, pois há preferências pessoais. Mas
o estilo e a filosofia permanecem os mesmos.
O primordial para nós sempre foi o tratamen-
to do vinhedo, é de onde a qualidade vem.
Temos nosso próprio estilo. Há produtores
com vinhedos na mesma área, com a mesma
variedade e fazem o mesmo que nós, mas os
vinhos têm sabor diferente. Tenho certeza que
é o tratamento do vinhedo, mas não sei dizer
honestamente. Sempre seguimos nosso pró-
prio caminho. Não vendemos vinhos doces,
ou brancos, ou tintos, vendemos Kracher, que
tem sabor único.

Quão difícil é vender vinhos doces?
É sempre difícil vender grandes vinhos em

que não conhecíamos. Era tipo um de clube
de degustação. Com a empresa de importação,
tinha acesso a vinhos especiais por um preço ra-
zoável. Hoje seria impossível. Acho que fomos
a última geração que pôde provar os bench-
marks, como Lafite 1982 por 300 euros. Nessa
época, descobri que o nível de qualidade nun-
ca é alcançado, sempre se pode colocar a barra
mais para cima. E desde então esse sempre foi
meu objetivo, pensar em como posso evoluir,
melhorar.

Você estudou enologia?
Não, ingressei na escola de economia. Não
me interessava por vinho e nem sabia o que
meus pais faziam, para ser honesto. Então
economia parecia legal, mas já sabia que o
vinho seria o futuro para mim. Meu avô não
pôde mandar meu pai para a universidade,
então meu pai sempre quis que eu estudas-
se. “Quando você terminar, pode fazer o que
quiser”, ele disse. Fui para Viena, no começo
estava indo muito bem, mas depois descobri
que havia bares e restaurante fantásticos, que
eram nossos clientes [risos] e, enquanto estu-
dei em Viena, nunca vendemos tanto vinho
lá quanto naquela época... Depois, fiquei fora
um ano, viajando o mundo, conhecendo to-
dos os mercados. Então, um dia meu pai disse:

Cada vez
que você
pensa: ‘Achei
a chave, não
erro mais’, a
natureza lhe
diz que está
errado. Com
uma nova
safra, tudo é
diferente
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