Você SA - Edição 255 (2019-08)

(Antfer) #1
VOCÊ S/A wAGOSTO DE 2019 w 53

sabe o que significa trabalho e como
conviver com isso”, afirma Débora.


E as empresas?
Existe uma triste estatística no
Brasil: após dois anos de retorno da
licença-maternidade, 48% das mu-
lheres são demitidas, de acordo com
uma pesquisa feita pela Fundação
Getulio Vargas, que aponta ainda
que a maior parte dos desligamentos


ocorre sem justa causa. “Não é à toa
que uma mulher no ambiente formal
de trabalho se sente com medo no
minuto em que se descobre grávi-
da. Ela sabe que naquele momento
o risco de ser desligada por qualquer
motivo aumenta. Também sabe que,
ao tentar retornar ao mercado de tra-
balho, encontrará dificuldade e que
jamais vai competir em condições
iguais fora do período considerado

de risco”, diz Vivian Abukater, sócia
da Maternativa, rede cujo objetivo
é transformar a relação entre mães
e mercado de trabalho. Ela própria
foi vítima de uma demissão quando
retornou de sua licença-maternidade
em uma multinacional.
Por isso, muitas optam por em-
preender — não por vontade própria,
mas como alternativa. “Boa parte das
companhias não está preparada para
acolher mães. E, assim, grandes ta-
lentos são perdidos, pois várias têm
filho quando estão no auge de suas
carreiras”, diz Luciana Cattony, da
consultoria Maternidade nas Em-
presas. Algumas companhias, no
entanto, começam a entender essa
questão e passam a criar ambientes
mais amigáveis às mães e que esti-
mulem o desenvolvimento de suas
funcionárias. “Já identificamos no
mercado empresas que têm equi-
dade de gênero como um valor, um
contexto que facilita abordarmos a
maternidade”, diz Luciana.
Ao pensar em políticas para mu-
lheres que recentemente se torna-
ram mães, é necessário prover flexi-
bilidade e acolhimento. “No grupo
de países que mais incentivam a
participação feminina no mercado
após a maternidade, há adoção de
iniciativas como licença parental
mais longa (licença para o pai e a
mãe, com obrigatoriedade de divisão
do período entre ambos) e remune-
rada, jornada flexível e possibilidade
de trabalho remoto”, afirma Regina
Madalozzo. Creches, pré-escolas e
escolas em horário integral também
fazem parte do pacote.
No fundo, o que falta para que
as mães optem por trabalhar como
preferirem é um olhar mais recep-
tivo, como resume Luciana: “Em um
mundo regido pelo valor humano,
onde se pedem ambientes acolhe-
dores e líderes mais empáticos, não
faz sentido ter de escolher entre
carreira e filhos”.

Débora Emm,
fundadora da
Inesplorato: rotina
dividida entre o
home office e a
sede da empresa

FOTO: GERMANO LÜDERS

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