Você SA - Edição 255 (2019-08)

(Antfer) #1

A contracultura
do século 21
Digite #wanderlust no menu de bus-
cas do Instagram e você encontrará
mais de 70 milhões de publicações.
A palavra, que virou febre nas redes
sociais — e inspiração de tatuagem
para muitos millennials por aí —,
tem origem na língua alemã: wander
(caminhar/vagar) + lust (desejo).
Numa tradução quase literal para
a língua portuguesa, podemos dizer
que é o desejo de viajar. Numa tra-
dução quase filosófica, seria o desejo
incontrolável de explorar o mundo,
de caminhar rumo ao desconhecido,
uma espécie de saudosismo idílico
por lugares nunca antes visitados e
que, de algum modo, fazem parte de
uma busca por si mesmo.
Todo esse hype em torno do termo
wanderlust expõe, ainda que de


forma figurativa, certa insatisfação
mundial dos mais jovens com a rela-
ção que a sociedade tem com o tra-
balho. Aquele negócio de bater pon-
to às 9 horas e depois novamente às
18 horas, semana após semana. Viver
a mesma rotina de segunda a sexta-
-feira durante anos, enquanto vê sua
vida passar pela janela de um escri-
tório — ou de um automóvel, en-
quanto está preso num engarrafa-
mento no caminho para a labuta.
Você envelhece e acumula coisas que
não consegue usufruir por falta de
tempo. Apega-se, então, ao que lhe
resta: uma promessa distante e vazia
de uma aposentadoria que, magica-
mente, resolverá todos os seus pro-
blemas. Isso, é claro, se você não
morrer de infarto aos 40 anos por
problemas no miocárdio relaciona-
dos ao estresse no trabalho.

Ao apontar o dedo
para quem tenta viver
uma vida diferente
da imposta pela
sociedade, as pessoas
despejam nos outros
suas frustrações, com
horas desperdiçadas
em cubículos, reuniões
familiares trocadas
por reuniões com o
chefe sem noção e
relacionamentos que
deixaram de existir
por causa das horas
extras no escritório

ILUSTRAÇÃO: MAURÍCIO PLANEL


Trecho do livro


No final dos anos 70, quando se iniciou a expansão dos computadores, não era possível


vislumbrar o impacto que as máquinas teriam no cotidiano das pessoas. Trabalhar


remotamente, sem precisar estar todos os dias no escritório, era algo impensável. Hoje,


se realmente tiver vontade, um profissional consegue realizar suas atividades ora num


coworking francês, ora num café à beira-mar na Tailândia. É sobre essa realidade que


Matheus de Souza trata em seu primeiro livro, Nômade Digital: Um Guia para Você


Viver e Trabalhar Como e Onde Quiser. Formado em relações internacionais, o autor


é cofundador do portal Be Freela e referência em nomadismo digital. Com exemplos da


própria trajetória, ele mostra tanto o lado bom quanto o ruim de atuar sem lugar fixo


e traz dicas para quem deseja se aventurar nesse novo modelo de trabalho.


Leia, a seguir, um trecho selecionado por VOCÊ S/A.


VOCÊ S/A wAGOSTO DE 2019 w 77
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