Veja São Paulo - Edição 2649 (2019-08-28)

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16 Veja São Paulo 28 de agosto, 2019


em Londres, criou uma locomotiva antiga com
personagens circenses. Seis anos depois, fez
um de seus trabalhos mais monumentais, em
Carrara, na Itália: um Davi, de Michelangelo
(1475-1564), sobre uma pedreira de mármo-
re, com 12 de metros de altura e 20 metros de
largura. Outro painel que merece destaque
nesse mapa-múndi é o retrato de David
Bowie, feito em 2017, em um prédio de Nova
Jersey. Também nos Estados Unidos, pintou
neste ano um heroico bombeiro, em referên-
cia ao 11 de Setembro.
A opção por temas de forte apelo garante a
repercussão na internet (os pontos pintados es-
tão entre os favoritos dos turistas para selfies)
e a admiração popular. Em votação do público,
os americanos o escolheram, no site da Time
Out, como uma das personalidades de 2019. Se
nas empenas é Kobra quem manda, no circuito
dos museus e galerias, outros brasileiros go-
zam de mais prestígio: OSGEMEOS, dupla
dos irmãos Gustavo e Otávio Pandolfo, que
começaram a carreira no Cambuci, já expuse-
ram no Tate Modern, em Londres, e no Museu
de Arte Contemporânea de Tóquio, no Japão.
“O Kobra esteve mais voltado para o espaço
externo e só agora começa a se institucionali-
zar. Não há que falar sobre qual postura é me-
lhor ou pior, não existem fórmulas”, avalia
Baixo Ribeiro, da Galeria Choque Cultural.
A comparação com o pernambucano Rome-
ro Britto, aventada quase sempre de forma pe-
jorativa no circuito tradicional, não incomoda
Kobra. “Respeito a trajetória dele, mas meu
caminho é outro. Meu trabalho tem cor, assim
como o de Andy Warhol. No entanto, é muito
diferente do de Romero, porque me aproximo
do desenho realista e das questões sociais”,
explica Kobra. Em comum, além das cores vi-
brantes, está o grande sucesso comercial. Só
neste ano, Kobra recebeu mais de quarenta con-
vites internacionais (o próximo projeto está pre-
visto para Ímola, na Itália, onde vai pintar a fi-
gura de Ayrton Senna). Para executar as obras
feitas por encomenda, ele não aceita menos de
100 000 dólares (ou mais de 400 000 reais). Suas
telas, em galerias americanas, também são nego-
ciadas por valor semelhante. O sucesso de ven-
das, entretanto, não ameniza o apetite dos ama-
dores por um veredicto: afinal, é bom ou não é? ALAN TEIXEIRA

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