Veja São Paulo - Edição 2649 (2019-08-28)

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18 Veja São Paulo 28 de agosto, 2019


“Dizer que algo não é arte é eminentemente uma vio-
lência, não uma crítica. Compreender as referências,
interesses e estratégias de qualquer produção é funda-
mental para além de ajuizá-la apenas como ‘boa ou
ruim’ ”, pondera a curadora Clarissa Diniz.
Em São Paulo a relação com o público, os colegas
de profissão e os críticos abrange extremos. “Foi o lugar
em que tudo começou, e onde fui xingado nas ruas”,
lembra. Qualquer mágoa, ele garante, ficou para trás.
“Aqui meu trabalho tomou força para ganhar o mundo”,
afirma. “No passado, pintávamos exclusivamente com
lata de spray. Ele usava compressor (aparelho industrial
que ajuda na aplicação da tinta), o que não era aceitá-
vel. Para mim, é uma forma de se apropriar de nossa
estética e valores”, diz Walter Nomura, mais conhecido
como Tinho, um dos desafetos de Kobra. O muralista,
que evita polêmicas, contemporiza: “Houve uma falta
de comunicação entre a gente, ninguém entendeu o lado
do outro. Para mim, era inviável usar o mesmo material
que eles, porque a lata de tinta era muito cara e rendia
pouco”. A escolha do material teve ainda uma motivação
técnica. “O uso da pistola (ferramenta que direciona o
jato) me propiciou um contorno mais certeiro, mais
apropriado ao tipo de desenho hiper-realista que faço, e
pede também a construção de um cenário.”
A dissidência gerou o estilo inconfundível. Os pai-
néis multicoloridos, como o retrato de Oscar Niemeyer


SUCESSO
INTERNACIONAL
O paulistano tem obras
em mais de quarenta países.
Nos Estados Unidos, uma
delas é o retrato vibrante
de David Bowie. Na Itália,
como visto na imagem
abaixo, ele transportou o
Davi (1501), de Michelangelo
(1475-1564), para uma
pedreira de mármore na
cidade de Carrara. Depois
da temporada do projeto
Galeria Circular, em São
Paulo, que termina em
8 de setembro, ele se prepara
para pintar um mural de
Ayrton Senna (1960-1994)
na cidade italiana de Ímola

feito na região da Avenida Paulista, são os mais mar-
cantes na cidade. Foi com esse estilo, por exemplo, que
ele entrou para o Guinness World Records com o maior
grafite do mundo, pintado em 2017 na fábrica da Cacau
Show, em Itapevi (o recorde anterior também era seu,
com o painel Etnias, criado para os Jogos Olímpicos
do Rio, em 2016). Mas há ainda desenhos de caracte-
rísticas muito diferentes. Em 2006, ele deu início à
série Muros da Memória, que reproduzia fotos antigas

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