Veja São Paulo - Edição 2649 (2019-08-28)

(Antfer) #1
8 Veja São Paulo 28 de agosto, 2019

Por Ricardo Chapola


#SPSONHA


Nova York faz fortuna


sobre os trens


Um pátio de manobras para trens, similar
aos que existem na Barra Funda, na Lapa e
na Mooca, abriga hoje o empreendimento
imobiliário mais caro de Nova York. Inicial-
mente, o espaço seria ocupado pela cons-
trução do Estádio Olímpico, mas a cidade
foi derrotada na disputa pelos Jogos de
2012, e a arena foi arquivada. A prefeitura,
porém, decidiu manter a ideia de uma
enorme laje cobrindo a área dos trens e
construir algo em cima. Ali, foi aberto em
março o chamado Hudson Yards. Trata-se
de um bem-sucedido exemplo de recupe-
ração de uma área ociosa da cidade, sem
o uso direto de dinheiro público, apenas
incentivos fiscais para quem decidisse ocu-
par o espaço, entre as ruas 30 e 34, na par-
te oeste da ilha de Manhattan. O investi-
mento estimado no complexo é de impres-
sionantes 25 bilhões de dólares (mais de
100 bilhões de reais — ou o equivalente a
quinze vezes o custo do Jardim das Perdi-
zes, na Barra Funda). A quantia veio de
duas poderosas empresas do setor imobi-
liário, a The Related Companies e o Oxford
Properties Group.
Durante sete anos, criou-se o novo
bairro, que ocupa uma área de 113 000
metros quadrados, correspondente a um
Estádio do Pacaembu e meio. Nesse perío-
do, o pedaço se valorizou e virou ponto
nobre da cidade. O que antes era uma vizi-
nhança formada por estaleiros e constru-
ções de menor porte, agora ostenta arra-
nha-céus espelhados de 100 andares a


poucas quadras do High Line, parque sus-
penso construído em cima do que sobrou
de uma linha férrea desativada no pedaço.
A iniciativa prevê a construção de dezes-
seis edifícios. O resultado esperado é o sur-
gimento de cerca de 4 000 apartamentos
(400 deles com aluguel subsidiado) e
55 000 postos de trabalho, além da oferta
de serviços como restaurantes e cafés, de
maneira a criar alternativas para que as pes-
soas não precisem sair dali para encontrar o
que desejam. “Queríamos que o projeto
fosse mais do que um centro comercial”,
afirma Kenneth Wong, diretor da The Related
Companies. Segundo ele, o complexo já
atraiu empresas como L’Oréal, WarnerMedia,
HBO e CNN. Por ora, o Hudson Yards conta
com sete edificações prontas: duas residen-
ciais, duas comerciais, uma de uso misto,
um shopping center com 100 lojas de luxo
(a exemplo de Cartier e Dior) e um centro
cultural, mais uma megaescultura — esses
dois últimos, um atrativo sobretudo para
turistas. De março a junho, o complexo
recebeu 6 milhões de visitantes.
Batizado de The Shed, o centro cultural
projetado pelo escritório Diller Scofidio +
Renfro surpreende pela capacidade de
transformação conforme o uso proposto.
Avaliado em 500 milhões de dólares (cerca
de 2 bilhões de reais), o prédio traz uma
cobertura móvel que desliza para o lado,
criando um novo ambiente para shows e
peças de teatro. Por meio desse mecanismo,
proporciona performances para 1 200 pes-

Hudson Yards: prédios
construídos sobre um
pátio de manobras de
trens em Nova York
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