Veja São Paulo - Edição 2649 (2019-08-28)

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Veja São Paulo 28 de agosto, 2019 9

soas em local protegido pela estrutura.
Quando não há nada em cartaz, a “capa” se
recolhe e a área abaixo vira uma praça.
Outro atrativo é o The Vessel, obra do
arquiteto e designer inglês Thomas Heather-
wick, uma escultura-escada inspirada em
um favo de mel, encravada no meio das
torres do local. A estrutura de aço forma
154 lances de escada e virou ponto favorito
para as selfies dos turistas. No meio, apa-
rece um recinto de convivência, cuja mis-
são foi neutralizar a carga de concreto e
ferro a partir do plantio de árvores.
Para quem defende o Hudson Yards, a
cidade otimizou um local desperdiçado,
criou necessários edifícios corporativos
mais modernos, além de ter reforçado bem
o caixa da prefeitura. Há, porém, quem veja
o projeto com ressalvas. Em um artigo pu-
blicado no The New York Times em março,
o crítico de arquitetura Michael Kimmelman
reprova a estética de shopping center, alheia
a Manhattan, diz que os prédios dão as cos-
tas para a cidade e que o espaço não seguiu
o modelo dos quarteirões menores comuns
por lá. Chama o empreendimento de “o
maior e o mais novo condomínio fechado
de Manhattan”, voltado para 0,1% da popu-
lação. Um apartamento, com 300 metros
quadrados, pode custar 12 milhões de dóla-
res. Mesmo reconhecendo o valor arquite-
tônico das edificações, Kimmelman susten-
ta que falta senso urbanístico. “Arquitetura
sem design urbano é só escultura”, escreve

o crítico, citando o Rockefeller Center como
referência da boa relação das obras com o
entorno do espaço público.
A iniciativa bilionária americana tem
sido usada como espelho por empresários
paulistanos que desejam levantar um me-
gaempreendimento, estimado em 8 bilhões
de reais, em uma das áreas mais nobres da
capital, próxima ao Parque Burle Marx, às
margens do Rio Pinheiros. As obras do
luxuo so complexo Parque Global devem
ser retomadas em outubro, depois de cinco
anos embargadas pela Justiça por questões
ambientais e urbanísticas. Em 218 000 me-
tros quadrados, promete-se a construção
de torres residenciais, shopping, hospital,
teatro, creche... A previsão é que tudo fique
pronto em oito anos. “O Parque Global será
o condomínio mais aberto ao público de
São Paulo”, sonha Adalberto Bueno Netto,
o presidente do grupo Bueno Netto, uma
das incorporadoras do empreendimento. A
promessa é a ligação com a Linha 17 – Ouro
do metrô, ainda em fase de planejamento,
e a abertura de outros estabelecimentos
por ali. A The Related Companies, que fi-
nanciou as obras do Hudson Yards, tam-
bém tem participação nesse projeto. “Pare-
ce que o Parque Global terá uma relação
melhor com o espaço urbano no que diz
respeito a seus vizinhos”, diz Nabil Bonduki,
arquiteto e urbanista da USP. “O que não
elimina o fato de seguir a mesma perspec-
FOTOS DIVULGAÇÃO tiva de elitização desse pedaço.”

Projeto do paulistano
Parque Global: modelo
de revitalização de área
de Manhattan


TIMOTHY SCHENCK

The Vessel: escultura-
escada “instagramável”
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