Ana Maria - Edição 1193 (2019-08-26)

(Antfer) #1

| Sinta & liga |


WAL REIS
é jornalista, profissional
de comunicação
corporativa e escreve
sobre comportamento
e coisas da vida.

D


izem que algumas
crianças têm amiguinhos
imaginários. Eu diria que
nós, adultas, vamos além:
temos um príncipe encantado
imaginário. Aquela pessoa que pode
até ter cumprido uma temporada
como namorado real, mas que,
por um motivo ou por outro, não
permaneceu. Porém, decidimos que
ele seria o ‘perfeito’, aquele com
quem a vida ia parecer um eterno
comercial de margarina.
É esse ex quem ganha todos
os louros da fama, mesmo que,
à sua época, nem tenha sido tão
príncipe ou tão encantado assim.
Mas é para o aconchego dessa
memória – muitas vezes inventada


  • que corremos cada vez que os
    caminhos escurecem. E o namorado
    imaginário não curte futebol ou sai
    com amigos. Também não envelhece
    ou tem cólica renal. Seguramente,
    não ronca e acorda de barba feita.
    É nele que pensamos quando
    assistimos àquela história de amor
    em uma noite de inverno e o sapo
    que nos acompanha puxa a manta
    para si e dorme antes dos créditos
    FOTO: GETTY IMAGESiniciais. Ao final da sessão, estamos ARQUIVO PESSOAL


Sobre


PRÍNCIPES


e SAPOS


... se tivéssemos
a oportunidade
de empregar
o príncipe,
ele seria
demitido antes
do período
de adaptação.
Porque,
pensando
bem, nosso
currículo
também não nos
habilita para a
vaga de princesa

chorando menos pela mensagem do
filme e mais por nossa predestinação.
E as músicas? Ninguém se dá conta,
mas aquele ímpeto de cantar a
letra que, tão descaradamente fala
de nossos amores interrompidos
com a interpretação de um
candidato do The Voice, não é dom

musical adormecido, não. Temos
uma tendência de romancear o
improvável, de imaginar o que teria
sido “se”, deixando o tal príncipe
nos perseguir a galope, a bordo do
seu cavalo branco, sem dar chance
nesse páreo, para que os plebeus se
defendam. É uma briga desleal entre
o idealizado, protegido pelas brumas
do passado ou da imaginação, e
aquele em carne e osso, que desfila
suas imperfeições por aí.
No fundo, a gente sabe que, se
tivéssemos a oportunidade de
empregar o príncipe, ele seria
demitido antes do período de
adaptação. Porque, pensando bem,
nosso currículo também não nos
habilita para a vaga de princesa.
E a gente nem gosta muito disso
de sapatinho de cristal com tanta
liquidação dando sopa por aí.

Envie suas perguntas para Thiago Vieira pelo e-mail [email protected] suas perguntas para Wal Reis pelo e-mail [email protected]

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