Leitura & Conhecimento - Ano 2 Número 05 (2019-07)

(Antfer) #1
FONTES Jogando na análise
de crianças: intervir-interpretar
na abordagem Winnicottiana,
livro de luziane zacché avellar
publicado pela editora casa do
psicólogo, em 2011; psicanálise
de crianças: histórico e reflexões
atuais, artigo de maíra
bonafé sei e maria fernanda
vasques cintra publicado
na revista da universidade
ibirapuera, em 2013; sobre
o trauma: contribuições de
ferenczi e Winnicott para a
clínica psicanalítica, artigo de
solange maria serrano fuchs
e carlos augusto peixoto
Júnior publicado na revista
tempo psicanalítico, em 2014;
o nascimento da psicanálise
de criança – uma história para
contar, artigo de maria do carmo
camarotti publicado na revista
reverso, em 2010; federação
brasileira de psicanálise
(febrapsi.org).

C

omo pai da psicanálise, o neurologista
Sigmund Freud conquistou seguido-
res e influenciou toda a posteridade
dos estudos psíquicos. Porém, alguns
de seus contemporâneos, por várias
razões, não são tão populares quanto o austríaco,
mas possuem suma importância para a continuidade
do campo psicanalítico. A seguir conheceremos um
pouco da história de dois personagens essenciais
para conceitos do mundo acadêmico.

Hermine: o elo entre a
psicanálise e a infância
Embora os nomes de Melanie Klein e Anna
Freud sejam as maiores referências populares
quando o assunto é psicanálise aplicada a crianças
(saiba mais nas páginas 18 e 24), foi Hermine Von
Hug-Hellmuth a pioneira no tema. Não se sabe
exatamente porque seu nome é tão negligencia-
do no memorial dos estudiosos da psique, mas
acredita-se que sua história conturbada e sua
trágica morte sejam as causas de sua invisibilidade.
A austríaca, nascida em Viena, no ano de 1871,
também foi julgada pela sociedade justamente
por envolver crianças no processo de análise.
Na época, aplicar aqueles conceitos em peque-
nos era um tabu. Hoje, porém, alguns estudiosos
tentam dar a Hellmurth seu merecido destaque.
Em seu artigo O nascimento da psicanálise de criança


  • uma história para contar, a mestre e psicanalista
    brasileira Maria do Carmo Camarotti cita a expe-
    riência de Hermine. “O relato de suas primeiras
    experiências abririam o terreno para se pensar as
    especificidades desta clínica. Hermine divergia da
    ideia da confluência pai-analista, defendida pelo
    mestre, argumentando que a criança não confessa
    jamais seus desejos e pensamentos íntimos e pro-
    fundos aos pais e que a franqueza psicanalítica do
    filho dificilmente seria suportada pelo narcisismo
    parental”, escreveu a especialista.
    Abrindo caminho para Anna Freud e Klein,
    Hermine analisou seu sobrinho, Rolf, que era
    filho de sua irmã Antonie. Depois de render
    escritos polêmicos, essa relação se estremeceu e
    seu paciente acabou lhe acusando de maus tratos
    e lhe assassinando tempos depois.
    Entre suas principais contribuições, estão as
    Imagens: Wikimedia Commons e Reproduçãosuas escrituras que contam técnicas de análise


na infância. De acordo com Luziane Zacché
Avellar, em seu livro Jogando na análise de crianças:
intervir-interpretar na abordagem Winnicottiana,
essa obra traz questões como “os meios para
adquirir a confiança das crianças e a importân-
cia de evitar sugestões nos atendimentos”. Ou
seja, Helmuth se preocupava com o “manejo do
terapeuta nas sessões” que, em certas ocasiões,
poderia se mostrar “intrusivo”.

sánor Ferenczi: a postura clínica
Ousado, dedicado, estudioso incansável e
braço direito de Freud, Ferenczi se ocupou em
aperfeiçoar a psicanálise e desenvolver conceitos
importantes para a quebra de barreiras entre
o psicanalista e seu paciente. O húngaro foi
ministro da saúde de seu país. Ele nasceu em
1873, em uma família descendente de judeus
poloneses, e cresceu cercado pela intelectualidade
de seu tempo. O ambiente sofisticado favoreceu
o seu desenvolvimento e sua forma de pensar.
Médico neurologista, sempre esteve preocupado
com questões relacionadas à dor e começou seus
estudos psicanalíticos assim que teve contato
com o austríaco, em 1908.
Refinou o processo de absorção com o con-
ceito de introjeção simbólica e propôs inúmeras
complementações às técnicas psíquicas. Entre
suas principais preocupações estavam a frieza e
os métodos com os quais os psicanalistas agiam
diante de seus analisados. De acordo com Sánor,
essas técnicas acabavam retraumatizando o paciente
em uma ligação pífia com a “língua dos adultos”,
e o distanciamento fazia com que a disposição
básica do caráter permanecesse intocável. Diante
dessa problemática, desenvolveu dois conceitos
importantes: a técnica ativa, na qual o psicana-
lista fala sobre sua experiência e sentimentos
com o paciente, e a análise mútua, em que ele
conta sobre sua própria análise para quem for
analisado. Além disso, ao lado do psicanalista e
pediatra Winnicott, é considerado de extrema
importância para a análise clínica de traumas.
Aquém de suas inúmeras contribuições concei-
tuais, Ferenczi também lutou para a organização
da psicanálise enquanto classe, sendo o principal
idealizador da International Psychoanalytical Asso-
ciation (Associação Internacional de Psicanálise).

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