Encontro com a psicanálise
Nascido em Leopoldstadt, distrito perto de Viena,
capital da Áustria, Otto Rosenfeld (nome de batis-
mo) teve uma infância traumática. Diagnosticado,
quando pequeno, com reumatismo articular agudo,
conviveu com dores físicas permanentes no corpo.
Além da doença, Otto também foi alvo de traumas
que incluíram atos de violência física praticados pelo
pai alcoólatra e uma tentativa de abuso sexual por
parte de outro adulto com proximidade familiar. Por
consequência, aos 20 anos, o psicanalista começou a
conviver com distúrbios psicológicos que o seguiram
por toda a vida adulta.
Entretanto, admirando literatura e filosofia, Rank
buscou saídas em sua capacidade intelectual. Prova
disso é que, apesar de ter sido obrigado, aos 14 anos,
a entrar em uma escola técnica para se capacitar na
profissão de mecânico, manteve-se interessado em
estudar frequentemente. Entre seus autores favoritos,
estavam nomes como os filósofos alemães Friedrich
Nietzsche e Arthur Schopenhauer. Aos 19 anos, bus-
cando independência da figura do pai, com quem tinha
problemas de relacionamento, aliado a sua paixão pela
leitura, adotou o pseudônimo Rank, pelo qual ficou
conhecido, baseado em um personagem da peça de
teatro norueguês Casa de Bonecas.
Nos anos seguintes, ao ler o livro Sexo e Caráter, do
filósofo austríaco Otto Weininger, passou a se interessar
pelos estudos da psique. Entretanto, como aponta o
Dicionário de Psicanálise, livro escrito pelos psicanalistas
franceses Elisabeth Roudinesco e Michel Plon, foi após
a leitura de A Interpretação dos sonhos, em 1905, de Freud,
que Rank se aprofundou no tema e passou a participar
das reuniões do grupo de estudo do pai da psicanálise.
A experiência foi determinante para a sua consolidação
no círculo intelectual de Viena, além de ser importante
para a sua trajetória profissional.
Jornada conturbada
Após o desfecho da Primeira Guerra Mundial
(1914-1918), Otto enfrentou alguns problemas recor-
rentes. Vivendo em Viena e praticando a profissão
de analista, passou a demonstrar um comportamento
melancólico, reflexo de seus transtornos. Esse fato o
levou a ser considerado pelos membros do movimento
psicanalista uma pessoa problemática, que sofria
de psicose maníaco-depressiva. Depois de dissidir
de alguns conceitos da Associação Internacional
da Psicanálise – órgão em que Freud tinha grande
prestígio –, Rank passou a trilhar seus próprios
caminhos.
Em 1924, lançou uma de suas obras de maior
popularidade – também uma das mais polêmicas
de sua carreira – O trauma do nascimento, na qual
estabelecia a ideia de que todos indivíduos sofrem
traumas ao nascer e buscam superá-los progressiva-
mente. Ao apresentar a teoria, conforme o Dicionário
de Psicanálise, “Rank já se interessava portanto pela
relação precoce (e pré-edipiana) da criança com a
mãe e pela especificidade da sexualidade feminina.
Do interesse dedicado ao pai, ao patriarcado e ao
Édipo clássico, ele passava para uma definição do
materno e do feminino, e logo para uma crítica radical
do sistema de pensamento do primeiro freudismo,
demasiadamente fundado, em sua opinião, no lugar
do pai e no falocentrismo”.
Já em 1926, o especialista desenvolveu uma teoria
a respeito da “terapia ativa”, que buscava estabelecer
o pensamento do paciente nos dilemas do presente,
ao contrário das tendências da época, que inseriam
a pessoa nos quadros do passado e no inconsciente.
De acordo com o psicanalista, essa postura seria
capaz de introduzir o indivíduo com distúrbios em
uma nova lógica positiva, a qual capacitaria para
enfrentar os quadros com maior eficiência.
FOntES Dicionário de Psicanálise, Elisabeth Roudinesco e Michel Plon, editora Zahar, 1998; Notórios da psicanálise: Otto Rank, artigo publicado pela Revista
Vórtice de Psicanálise, 2016, disponível em: bit.ly/2AMHVBk.
Em 1924, lançou uma de suas obras de maior
popularidade – também uma das mais polêmicas de sua
carreira – O trauma do nascimento, na qual estabelecia a
ideia de que todos indivíduos sofrem traumas ao nascer e
buscam superá-los progressivamente.
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