CONSULTORIA claudia brazil, psicanalista clínica e coordenadora do Instituto amas de psicanálise e terapias,
em Fortaleza (ce).
Talvez por conta disso, a princípio, Anna Freud buscou uma trajetória
profissional diferente de seu pai. Adotando uma tendência familiar –
nenhum outro filho de Sigmund seguiu sua carreira –, a psicanalista,
inicialmente, atuou como pedagoga durante os anos de 1914 e 1920.
Com atuação próxima às crianças, foi capaz de acompanhar o com-
portamento dos pequenos e desenvolver técnicas para acalmá-los,
proporcionando-lhes maior bem-estar.
Essa experiência geraria frutos. Afinal, a partir dos estudos que
começou a formular na década de 1920 – inclusive oferecendo trata-
mento a pequenos vítimas de problemas sociais – e das descobertas
promovidas pela psicanalista Melanie Klein (entenda a respeito na
página 18), o campo da psicanálise infantil passou a se consolidar. “As
contribuições da Anna para o tema foram extensas por sua aborda-
gem vinculada à pedagogia, estabelecendo técnicas terapêuticas ainda
utilizadas atualmente”, aponta a psicanalista clínica Claudia Brazil.
ferramentas de proteção
Durante esse período de análises, Anna desenvolveu obras que
aprimoraram os conceitos estabelecidos por seu pai. Em uma delas,
divulgada no seu livro O Ego e os Mecanismos de Defesa, publicado em
1936, apresentou sua teoria mais famosa a respeito das ferramentas
que o ego (imagem aceitável da personalidade) utiliza para se proteger
de situações desconfortáveis. Presentes tanto em crianças pequenas
quanto em adultos, os mecanismos podem ser úteis quando controla-
dos. Entretanto, surgindo de forma desregrada, são capazes de causar,
no sujeito, incapacitações para lidar com a realidade, desenvolvendo
distúrbios emocionais.
Existem diversos mecanismos de defesas e cada um deles é diferente
em características, manifestando-se em situações específicas. Alguns
deles são:
- Negação: quando um problema é grave demais para ser resolvido,
o comportamento instintivo da psique é ignorá-lo. Por conta disso,
é um fenômeno comum após um trauma, como o falecimento de um
ente querido, a adoção de uma postura de não enfrentamento do fato.
Afinal, isso tornaria o ocorrido algo real. - Projeção: atribuir um sentimento ou uma realidade a outra pes-
soa, sem que ela mesmo saiba ou seja responsável por isso, é um ato de
projeção. Ao transferir uma responsabilidade, torna-se mais simples
para o sujeito não lidar com frustrações ou dificuldades. - Regressão: em uma situação desgastante causada por si, um
comportamento possível é transferir a culpa para família ou amigos.
Dessa forma, a falha não é reconhecida como uma parte de si e, por-
tanto, não é trabalhada. - Deslocamento: comportamento comum em pessoas que adotam
posturas vexatórias com aqueles ao redor, o deslocamento é quando
você direciona uma mágoa a alguém considerado mais fraco.
Imagens: Imagno/Colaborador/Getty Images
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