Educação - Edição 260 (2019-08)

(Antfer) #1

ENTREVISTA


Ex-ministro vê na gestão Bolsonaro a interrupção


de um ciclo virtuoso de três décadas em que toda a


sociedade se mobilizou em favor da educação


| Eduardo Marini


FORA DA CURVA

S


eis ex-ministros da Educação reuniram-se
no dia 4 de junho, na Universidade de São
Paulo (USP), para expressar preocupações
e discordâncias em relação aos rumos im-
postos ao Ministério da Educação (MEC) nos
primeiros e atabalhoados meses do governo
Bolsonaro. Na ocasião, divulgaram um do-
cumento em defesa da liberdade de cátedra
e da autonomia acadêmica, e contrário aos
cortes de verbas para universidades anunciados pelo
governo e à perseguição ideológica no ambiente educa-
cional. Uma das vozes mais ativas do encontro foi a do
professor e escritor Murílio de Avellar Hingel, 86 anos,
gestor da pasta entre 1° de outubro de 1992 e 31 de de-
zembro de 1995, no governo Itamar Franco. Formado em
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de Fora (UFJF), professor em todos os níveis de ensino
desde 1951, Hingel foi também diretor da Faculdade de
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cretário municipal de Educação da cidade e estadual em
Minas Gerais. Nesta entrevista, ele analisa as mudan-


ças na educação brasileira ocorridas entre sua entrada
no ministério e os primeiros meses sob Bolsonaro. Não
poupa de críticas negativas o atual ministro, Abraham
Weintraub, e muito menos o anterior, o colombiano Ri-
cardo Vélez Rodríguez, ex-professor da UFJF como ele.
“Esses senhores são despreparados para o cargo. Não
sabem gerir, não conhecem o setor e estão longe de
conseguir dimensionar a complexidade do sistema edu-
cacional brasileiro”, resume sem meias-palavras.

O que o senhor considera mais importante em sua
passagem pelo MEC?
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nal de dezembro de 1994. O ponto alto, a meu ver, foi a
elaboração, seguida das primeiras realizações, do Plano
Decenal de Educação para Todos 1993, que previa metas a
serem atingidas até 2003. Em outubro de 1992, a educa-
ção estava em uma condição estranha, digamos assim. O
Brasil havia participado, dois anos antes, da conferência
internacional de Educação para Todos, promovida na
Tailândia pelo Banco Mundial, Pnud, Unesco e Unicef. O

NO PONTO


Murílio Hingel

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