“Ao aceitar o slogan da guerra revolucionária, caímos
nas mãos do imperialismo. A posição de Trotski não é
posição alguma. Não há movimento revolucionário no
Ocidente, não há nenhum fato de movimento revolucio-
nário, há só potencialidades; e, no nosso trabalho, não
podemos nos basear só em potencialidades. Se os ale-
mães começarem a avançar, isto reforçará a contra-revo-
lução neste país. (...) Em outubro, falamos de guerra san-
ta contra o imperialismo, porque nos disseram que a pa-
lavra ‘paz’, apenas, faria surgir a Revolução no Ocidente.
Não foi o que aconteceu”.
Quando assinado o acordo, Lênin não escondeu seu
“caráter vergonhoso”, mas sabia que aquela seria a única
solução viável para a Rússia. Pelo tratado, o país cedia a
Polônia e os territórios do Báltico e da Ucrânia à Alema-
nha. Em compensação, com a derrota germânica e a que-
da da monarquia naquele mesmo ano de 1918, o exérci-
to alemão desocuparia a Ucrânia.
Diante da paz e dos conflitos, os social-revolucioná-
rios de esquerda, que compunham o governo ao lado dos
bolcheviques, romperam e abandonaram o governo. Co-
meçava ali o regime de um partido só na Rússia, que do-
minaria o país até a queda da União Soviética, no início
dos anos de 1990. A ideia inicial bolchevique não era um
governo de um único partido, muito menos a implanta-
ção um regime autoritário. Como toda Revolução, o que
movia as emoções e as ações iniciais eram o bem-estar
do povo e a justiça social. Fizeram a Revolução em nome
e para o povo, mas, com o desenrolar dos acontecimen-
tos, as coisas mudaram de figura e quando os bolchevi-
ques perceberam, já viviam num país ditatorial. Stalin foi
o indivíduo que, de fato, deu o passe final para o autori-
tarismo. Mas tudo começou com a guerra civil, que divi-
diu a Rússia até 1921.
A CONTRA-REVOLUÇÃO
Os descontentes com os bolcheviques deram início à
contra-revolução. Social-revolucionários de esquerda, in-
clusive, partiram para atentados contra Lênin e outras li-
deranças bolcheviques. Aconteceram motins e movimen-
tos de insurreição, que atingiram o ápice com a organiza-
ção de uma força contra-revolucionária – denominada de
“Exército Branco” em oposição ao Vermelho dos bolche-
viques – que teria apoio das potências ocidentais.
Depois de assinado o acordo de paz, Trotski perdeu
crédito e acabou deixando seu cargo de Comissário de
Relações Exteriores. Passou a ser o novo Comissário de
Guerra, posto em que alcançaria o ápice de sua popula-
ridade ao criar o Exército Vermelho, que se destacaria
na defesa da Revolução durante a guerra civil. Trotski
idealizou o exército com voluntários e camponeses con-
vocados. Para as lideranças das divisões, colocou ex-ofi-
ciais czaristas. Como não podia confiar totalmente ne-
les, designou comissários políticos ligados ao partido
para acompanhá-los. Trotski descreveria tal formulação
como a “construção do socialismo com os tijolos retira-
dos das ruínas da velha ordem”.
Muitas lideranças do partido foram contra, e de fato
tiveram razão, pois diversos casos de traição e deserção
foram detectados. Casos como de toda uma divisão pas-
sar para o lado dos “brancos”. Mas a verdade era que o
governo revolucionário não tinha outra alternativa. Era
correr o risco ou se entregar.
O auge da guerra civil aconteceu com o desembar-
que de tropas ocidentais em diversos pontos da Rússia.
Americanos na Sibéria; ingleses pelo norte e sul, na re-
gião de Baku, onde ficava a indústria do petróleo russo;
e o conflito com a Alemanha na Ucrânia. Fora isso, um
ex-general cossaco, Krasnov, liderando um grande exér-
cito, marchava do sul rumo a Moscou. A produção de
alimentos que abastecia os combatentes e a população
vinha justamente da Sibéria, da Ucrânia e da região de
Tsaritsin. Krasnov sabiamente fechou a última via de
transporte dos alimentos para Moscou, já transformada
na capital por iniciativa de Lênin. Era uma forma de es-
trangular o adversário.
Foi nesse momento, de “perigo supremo”, nos dizeres
de Deutscher, que “quase todos os membros do gover-
Os descontentes com os bolcheviques deram início à contra-
-revolução. Social-revolucionários de esquerda, inclusive, partiram
para atentados contra Lênin e outras lideranças bolcheviques.
Aconteceram motins e movimentos de insurreição, que atingiram
o ápice com a organização de uma força contra-revolucionária –
denominada de "Exército Branco" em oposição ao Vermelho
- que teria apoio das potências ocidentais