A
partir de 1928, Stalin estava livre para pôr
em prática o que alguns historiadores cha-
mam de “Segunda Revolução”, desta vez em-
preendida diretamente do topo do poder e
por um único homem. Seria o que se chamou de “revo-
lução feita de cima para baixo”, ou “imposta”.
Segundo Isaac Deutscher, essa segunda revolução “de-
sembocou na rápida industrialização da Rússia; obrigou
mais de 100 milhões de camponeses a abandonar proprie-
dades pequenas e primitivas e se estabelecer em fazendas
coletivas; retirou, impiedosamente, o ancestral arado de
madeira das mãos do mujique e o forçou a segurar o vo-
lante do trator moderno; conduziu dezenas de milhões de
analfabetos à escola e fez que aprendessem a ler e a escre-
ver; e, espiritualmente, separou a Rússia europeia da Eu-
ropa e trouxe a Rússia asiática para perto da Europa. O
desfecho dessa revolução foi espantoso, assim como o cus-
to: a completa perda, por parte de toda uma geração, da li-
berdade política e espiritual”. A questão a ser definida por
Stalin naquele momento respondia a dois interesses do
país que vinham desde os tempos do czar: como indus-
trializar rapidamente a URSS e como lidar com a agricul-
tura, que não tinha boa produtividade.
O problema agrícola já vinha sendo debatido inter-
namente pelo partido. Os bolcheviques de esquerda que-
riam a transferência da propriedade privada para a pro-
priedade coletiva, processo que seria feito gradualmente
e diante do consentimento dos camponeses. E, confor-
me o sistema fosse se mostrando ágil e economicamente
saudável, os demais camponeses iriam aderindo volunta-
riamente, até conhecer a completa coletivização.
Foi nessa toada que Stalin anunciou o chamado “I
Plano Quinquenal” no final de 1928. Tal plano determi-
nou a supressão da NEP leninista e da propriedade in-
dividual, além do aumento da produção, estabelecendo
como prioridade a industrialização do país, com foco na
indústria pesada e de equipamentos. Para a agricultura,
ficavam estabelecidos dois modelos de unidades de pro-
dução coletiva: sovcoses, as fazendas do Estado, onde o
camponês era um trabalhador assalariado; e os colcoses,
cooperativas em que o camponês recebia uma pequena
parcela de terra e, após pagar um tributo ao Estado pelo
uso das máquinas, podia vender o que produzia.
A intenção era de que as terras fossem estatizadas em
20% até 1933. Mas essa intenção não parecia ser o me-
lhor para os camponeses, tanto que estes se rebelaram e,
antes de ser removidos de suas terras, destruíram a co-
lheita e mataram o gado. “Entre 1929 e 1934, o número
de cabeças de gado caiu de 70,5 milhões para 33,5 mi-
lhões; o de cavalos reduziu-se de 33,5 milhões para 17,5
milhões, e as perdas foram maiores ainda nos rebanhos
de suínos, caprinos e ovinos. Somente em meados da dé-
cada de 1950, os rebanhos voltaram a alcançar os níveis
do período que antecedeu à implantação do plano”, es-
creveram Dorothy e Thomas Hoobler em “Grandes Lí-
deres – Stalin”.
Teve início uma verdadeira guerra entre camponeses e
governo. Diversos camponeses, que não aceitavam a “obri-
gação” de se transferir para as fazendas coletivas, foram
presos, exilados e fuzilados. Houve um excesso de violên-
cia contra a população que acabou gerando discussão e
incômodo para Stalin, tanto que ele chegou a publicar no
0®26'()(55262%5($8566
Sem Trotski para atrapalhar, o poder de Stalin tornou-se
soberano. Era hora de colocar em prática o “socialismo
de um só país”, que envolveria imensa industrialização
às custas do trabalho no campo através das fazendas
coletivas. Enquanto isso, o ditador passava a ver
inimigos em qualquer companheiro que se destacasse, e
acabava com todos que pudessem lhe tomar o poder.
Era o terror stalinista
Por Lucas Pires