Grandes Ditadores da História - Hitler & Stalin - Edição 01 (2019-08)

(Antfer) #1

ao lado da mãe, cuidando dela
com uma dedicação verdadei-
ramente filial. Ela era a única
criatura a quem o frio Adolf
dedicava afeto. Em sua bio-
grafia, Sir Ian Kershaw afirma
que “tanto a irmã Paula como
o doutor Bloch (o médico que
tratou de Klara) testemunha-
ram a entrega (de Hitler) de-
votada e infatigável ao cuida-
do de sua mãe agonizante”. A
dedicação não evitou, porém,
a morte de Klara, no final de



  1. Foi outro golpe profun-
    do no jovem. O médico, Blo-
    ch, registrou “nunca ter visto
    ninguém tão prostrado pela
    dor quanto Adolf Hitler”.


FUNDO DO POÇO
O mundo do futuro
Führer tinha desmoronado.
Para tentar reconstruí-lo, em
1908, se empenhou mais uma
vez em entrar na Academia
de Belas Artes de Viena. No-
vamente, foi reprovado. Essa
terceira frustração acabou fa-
zendo que ele se isolasse cada
vez mais. Decidiu, então, permanecer em Viena, subsistin-
do com uma magérrima pensão para órfãos concedida pelo
Estado, e mais um pouco de dinheiro que uma tia havia lhe
dado. Adolf quase não trabalhava. Vez ou outra fazia bicos
e ganhava algum dinheiro pintando paredes.
Um companheiro seu de Linz, um estudante de músi-
ca chamado Kubizek que conviveu com Hitler nesse pe-
ríodo, o descreveu como um jovem “dedicado ao ócio, pre-
ocupado apenas com as reformas sociais dos bairros po-
bres, idealizando alternativas políticas que amenizassem
a precária situação em que o país se encontrava”. Segun-
do Kubizek, Hitler lia muito nessa época, e ia quase todo
dia à ópera, assistir ao seu autor favorito, Richard Wagner.
Mas não estava bem: “cada vez mais perdido, cada vez mais
enraivecido com o mundo”, afirmou seu conterrâneo.
Esse tempo em que Adolf Hitler subsistiu em Viena, vi-
vendo, entre 1909 e 1913, numa condição próxima da indi-
gência, foi fundamental para a consolidação do conceito do
nazismo. Na capital do Império Austro-Húngaro, uma ci-
dade multirracial, cuja população de judeus chegava a 10%,
e onde uma opulenta aristocracia convivia com os mais es-
quálidos mendigos, Hitler começou a misturar a argamas-


sa de sua ideologia e a nutrir
o anti-semitismo, que tanto
marcou seu ‘reich’ de terror.
O anti-semitismo era um
sentimento cultivado e disse-
minado na Europa Central.
O próprio prefeito de Vie-
na, Karl Lueger, um políti-
co que Hitler idolatrava e de
quem buscou copiar a eloqu-
ência nos discursos, declarava
publicamente seu ódio pelos
judeus. Numa de suas prela-
ções, Lueger afirmou que “fa-
ria um serviço ao mundo colo-
cando os judeus em um gran-
de barco e afundando-o em
alto-mar”. De fato, os judeus,
que nunca se integraram real-
mente ao país para onde imi-
graram – qualquer que fosse
este –, permanecendo fiéis aos
seus costumes e à sua comu-
nidade e com fama de tramar
para controlar o mundo, eram
vistos como os culpados pela
crise do império Habsburgo.
Em 1913, o dinheiro da
herança de Klara foi liberado
para Hitler, que aproveitou
a chance para se mudar para Munique. Na verdade, ele foi
para a Alemanha para fugir do serviço militar austríaco, pois
não se dignaria a servir sob os Habsburgo que tanto o de-
sagradavam. O dinheiro da herança era pouco, e Adolf teve
de usá-lo com parcimônia para não cair na condição de indi-
gência dos anos anteriores.
A capital da Baviera era, na época, uma cidade que pul-
sava arte e cultura, cheia de artistas que saíam de várias par-
tes da Europa para ali expressar seu talento. Hitler passava
os dias nos cafés e nas cervejarias, lendo jornais que confir-
mavam suas posições extremistas. E assim ele passou o ano
de 1913 e a maior parte de 1914: vagabundeando de café
em bar, esmagado pelo peso do fracasso dos seus sonhos
artísticos e pelo medo de ser encontrado pelas autoridades
de seu país. Isso, porém, veio finalmente a mudar no início
de agosto de 1914, quando a Alemanha declarou guerra à
Rússia e à França. O conflito iria causar uma guinada ines-
perada daquele quase indigente, desertor do exército aus-
tríaco. Estava para começar o período que Hitler descreveu
em sua autobiografia Mein Kampf (Minha Luta) como “o
mais excelente e inesquecível de toda a minha, como a de
todo alemão, existência terrena”.

o tempo em que Adolf


Hitler subsistiu em Viena,


vivendo numa condição


próxima da indigência,


foi fundamental para a


consolidação do conceito


do nazismo. Na capital do


Império Austro-Húngaro, uma


cidade multirracial, cuja


população de judeus chegava


a 10%, e onde a opulenta


aristocracia convivia com


os mais esquálidos


mendigos, Hitler começou


a misturar a argamassa de


sua ideologia e a nutrir


o anti-semitismo, que tanto


marcou seu reich de terror


ao lado da mãe, cuidando dela
com uma dedicação verdadei-
ramente filial.Elaeraaúnica
criatura a quem o frio Adolf
dedicava afeto. Em sua bio-
grafia, Sir Ian Kershawaafirfima
que “tanto a irmã PaPaululaa como
o doutor Bloch (oo méméddico que
tratou de Klara) tesestetmunha-
ram a entrega (dde eHHitler) de-
votada e infatigigável ao cuida-
do de sua mããee agonizante”. A
dedicação nããoo evitou, porém,
a morte deKKlara, no final de



  1. Foi ooutro golpe profun-
    do no joveem. O médico, Blo-
    ch, registrorou “nunca ter visto
    ninguém tãtão prostrado pela
    dor quantto Adolf Hitler”.


FUNDOO DO POÇO
O mmundo do futuro
Führhrerer ttinha desmoronado.
PaPara tenntatar reconstrruíuí-l-loo, em
1190808 , , se empenhou mamaisuumma
vvez em entrar na AAcacaddemiiaa
dde Belas Artes de ViViena.a.NNo-
vaamem nte, foi reprovado. Essa
tercceiera frustração acabou fa-
zenddo oque ele se isolasse cada
vez mamais. Decidiu, então, permanecer em Viena, subsistin-
do comm uma magérrima pensão para órfãos concedida pelo
Estadoo,, e mais um pouco de dinheiro que uma tia havia lhe
dado. AAdolf quase não trabalhava. Vez ou outra fazia bicos
e ganhavava algum dinheiro pintando paredes.
Umccomo pap nheiro seu de Linz, um estudante de músi-
ca chamadoKKubu izek que conviveu com Hiitltler nesesse pe-
ríodo, o descrevveue como um jovem “dedicado ao ócio, pre-
ocupado apenas com as reformas sociais doos bairros po-
bres, idealizando alternativas políticas quee ameninzassem
a precária situaçãooem que o país se enconntrava”. Seegugun-
do Kubizek, Hitlerr lia muito nessa época, e e ia quase toddo
dia à ópera, assistir aao seu autor favorito,RRicichhard Wagner.
Mas não estava bem: “cada vez mais perdididodo, cadda vez maiis
enraivecido com o mundn o”, afirmou seu conterrâneo.
Esse tempo em que AdAdolf Hitler subsistiu em Viena, vi-
vendo, entre 1909 e 1913, nun ma condição próxima da indi-
gência, foi fundamental paraaaa consolidação do conceito do
nazismo. Na capital do ImpérioioAAustro-Húngaro, uma ci-
dade multirracial, cuja população dedejjudu eus chegava a 10%,
e onde uma opulenta aristocracia conviviviva com os mais es-
quálidos mendigos, Hitler começou a miiststuruar a argamas-


sa de sua ideologia e a nutrir
o anti-semitismo, que tanto
marcou seu ‘reich’ de terror.
O anti-semitismo era um
sentimento cultivado e disse-
minado na Europa Central.
O próprio prefeito de Vie-
na, Karl Lueger, um políti-
co que Hitler idolatrava e de
quem buscou copiar a eloqu-
ência nos discursos, declarava
publicamente seu ódio pelos
jujudedus. Numa de suas prela-
çõess,,Lueger afirmou que “fa-
ria umm serviço ao mundo colo-
cando oss judeus em um gran-
de barco ee afundando-o em
alto-mar”. DDe efato, os judeus,
que nunca seiintnegraram real-
mente ao país ppara onde imi-
graram –qquaulqquer que fosse
este –, permmannececendo fiéis aos
seususccosottumes s e à àsua comu-
nidade e comm fammaa de tramar
para controlarr ommuundo, eram
vistos como oos cullpapdos pela
crcise doiimpmpério Haabsburgo.
EmEm 1191913 , oddiinheiro da
herança de Klaraffoi liberado
para Hitler, queue aproveitou
a chance para se mudar para Munique. Na veverdade, ele foi
para a Alemanha para fugir do serviço militaar austríaco,ppoiis
não se dignaria a servir sob os Habsburgrgooque tanto o dede-
sagradavam. O dinheiro da herança era appouco, e Adolf teve e
de usá-lo com parcimônia para não cairrnnaa cocondição de inndi-
gência dos anos anteriores.
AA cacapiitall da Baviera era, na época, uma cidade que pull-
sava arte e ccultura, cheia de artistas que saííama de várias par-
tes da Euroopa para ali expressar seu talennto. Hitler passava
os dias nos cafés e nas cervejarias, lendodo jornais que confir-
mavam suasposições extremistas.. Eaassssimim ele passou o ano
de 1913 e a mam ior parte de 1 911 4:4: vagababundeando de café
em bar, esmagag do ppelo peso do fracassso dos seus sonhos
artííststicicososee pelo medo de ser encontraaddo pelas autoridades
de seu país. Isso, porém, veio finalmemente a mudar no início
de agosto de 1914, quando a Alemmanha declarou guerraà
Rússia e à França. O conflitoiiria ccausar uma guinada ines-
perada daquele quase indiggenentee,, desertor do exército aus-
tríaco. Estava para começaar ro o período que Hitler descreveu
em sua autobiografia MeMeinin Kampff (Minha Luta) como “o
mais excelente e ineessquecível de toda a minha, como a de
todo alemão, existstência terrena”.

otempo em que Adolf


Hitler subsistiu em Viena,


vivendo numa condição


próxima da indigência,


foi fundamental para a


consolidação do conceito


do nazismo. Na capital do


Império Austro-Húngaro, uma


cidade multirracial, cuja


população de judeus chegava


a 10%, e onde a opulenta


aristocracia convivia com


os mais esquálidos


mendigos, Hitler começou


a misturar a argamassa de


sua ideologia e a nutrir


o anti-semitismo, que tanto


marcou seu reich de terror

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