Grandes Ditadores da História - Hitler & Stalin - Edição 01 (2019-08)

(Antfer) #1

A


pesar de ser um brilhante orador e de ter cons-
ciência de que “o triunfo de todos os grandes
movimentos ocorridos no mundo foi obra de
grandes oradores, e não de grandes escritores”,
Adolf Hitler sabia que “a unidade e a uniformidade na de-
fesa de qualquer doutrina exigem que seus inextinguíveis
princípios sejam formulados por escrito”. Assim, enquanto
cumpriu pena por ter articulado o Putsch (Golpe) da Cer-
vejaria, o futuro Führer se dedicou a escrever a obra que
veio a ser a bíblia do nazismo, o Mein Kampf, isto é, “Mi-
nha Luta”. O livro é mais que uma história autobiográfica
da sua ascensão. Nele, estão os princípios do nacional-so-
cialismo conforme entendidos pelo líder nazista. É uma
tese repleta de ressentimento e que veio a influenciar todo
o povo alemão de uma forma no mínimo assustadora. Pu-
blicado em 1925, o livro já tinha vendido mais de 1,5 mi-

lhão de exemplares e começava a ser editado em braile em


  1. No final da Segunda Guerra, já havia sido traduzi-
    do para 16 idiomas e vendido mais de 10 milhões de có-
    pias. E, apesar das propostas contidas no livro – inconce-
    bíveis aos olhos modernos –, a Alemanha outorgou poder
    ao seu autor. A seguir, uma visão dos principais pontos da
    doutrina nazista de acordo com o Mein Kampf.


ANTI-SEMITISMO
Um dos pilares sobre o qual se sustentou o ideal nazis-
ta foi o anti-semitismo. Entre os principais motivos pelos
quais Hitler culpava os judeus dos problemas da Alema-
nha estava o fato de estes serem partidários da república
e contrários à monarquia. Muitos israelitas insistiram no
ideal republicano quando a Alemanha ainda lutava. Eles
eram, aos olhos do idealizador do nacional-socialismo,
os traidores que, com sua interferência política, levaram a
Alemanha à derrota.
O ódio aos judeus era, porém, anterior à guerra. Tam-
bém não era exclusivo de Hitler nem dos alemães. Na

Áustria, políticos como Ritter von Schönerer – que in-
fluenciou sobremaneira o futuro Führer durante sua ju-
ventude em Viena – já nutriam um anti-semitismo exa-
cerbado. E pelo mesmo motivo. Foi ainda numa idade pre-
coce que Hitler percebeu “a diferença entre os judeus e as
demais pessoas” e o fato de eles serem “uma população que
nenhuma semelhança tinha com os germânicos”. E pas-
sou a não tolerar qualquer coisa produzida pelos israelitas,
fosse nas artes, no cinema ou no jornalismo. O que quer
que viesse dos judeus estava “infectado”, segundo Adolf.
Assim, não havia motivo para permitir que a raça judaica
continuasse a se infiltrar na pátria germânica.

ANTIMARXISMO
Os outros culpados pela derrota da Alemanha e pela
instabilidade que ela veio a enfrentar depois da guerra

eram, no entender do líder nazista, os comunistas. Como
no caso dos judeus, o ódio doentio contra os soviéticos fica
bem evidenciado nas cifras aproximadas do Holocausto:
entre 5,6 e 6,1 milhões de judeus e 2,5 e 4 milhões de pri-
sioneiros de guerra soviéticos.
Adolf Hitler havia estudado a obra de Karl Marx em
Viena, mas seu ressentimento com relação aos comunis-
tas vinha do que ele classificava como “antipatriotismo”.
Durante a guerra, trabalhadores marxistas promoveram
greves que fizeram os homens nas linhas de frente pas-
sar necessidades. Além disso, depois do fim do conflito,
os seguidores da doutrina de Marx tentaram tomar o po-
der e fragmentar a Alemanha. Eram uma ameaça à uni-
dade do país.
Para fechar o circuito, o futuro Führer se opunha ao
marxismo porque entendia que os judeus estavam por trás
desse conceito. Segundo o Mein Kampf, “a doutrina judai-
ca do marxismo nega o princípio aristocrático da natureza
e, em lugar do eterno privilégio da força e da energia, co-
loca seu peso morto em cima dos números”. Como se vê,

0LQKD/XWD

Em Mein Kampf, o líder nazista expõe os
principais pontos de sua doutrina num
discurso tão arbitrário quanto contundente
Por Claudio Blanc
Free download pdf