Women's Health - Brasil - Edição 118 (2019-08)

(Antfer) #1
Tínhamos saído apenas uma vez, mas em uma
semana eu havia encontrado um artigo elogiando
seu trabalho, o valor de mercado da casa de campo
de seus pais e o Facebook de sua ex-namorada.
E não foi porque ele havia me contado detalhes
de nenhum desses fatos, mas, sim, porque eu
embarquei na missão de descobrir tudo – veja bem,
tudo! – que pudesse sobre minha nova paixão. Eu
não me surpreenderia se você me achar uma pessoa
muito assustadora, assim como também não me
surpreenderia se você se identificar comigo.

É O INSTINTO
HUMANO
O desejo de buscar
informações sobre uma
pessoa de interesse é algo tão
natural quanto respirar.
“Quanto mais sabemos sobre
uma pessoa, mais nos
conectamos com ela, o que
ajuda a preencher nossas
necessidades de amor e
aceitação”, afirma Michelle
Drouin, psicóloga na Purdue
University Fort Wayne
(EUA), que estuda o papel
da tecnologia nos
relacionamentos. No
passado, isso acontecia de
modo mais natural:
ficávamos sabendo da vida
de alguém apenas através de
nossas experiências reais
com essa pessoa (ou seja,
saindo com ela e
conversando). Porém, em
2019, quando a informação
está literalmente na ponta
dos dedos (pesquisar no
Google, ver fotos no
Instagram), estamos
preenchendo as lacunas
através de um trabalho de
detetive digital.
Uma rápida pesquisa para
saber se “essa pessoa é
realmente quem ela diz ser” é
algo sensato a se fazer. Mas a
maioria de nós não para por
aí. Quando consideramos que
alguém é um(a) parceiro(a)
que vale a pena, continuamos
procurando evidências que
confirmem isso, juntando
peças enquanto nos

aprofundamos cada vez
mais num universo
surreal, em busca de
informações. Embora não
exista um termo médico
para esse hábito
alimentado pelas mídias
sociais, especialistas
deram um nome
convincente:
perseguição leve.

A DURA
REALIDADE
Diferentemente da
real, a perseguição
leve não representa
uma ameaça verdadeira
à outra pessoa. Mas isso
não significa que ela seja
inofensiva. “Quando usamos
nosso tempo para pesquisar
sobre alguém de quem
gostamos na internet, nosso
cérebro ouve: ‘Essa pessoa é
importante para mim’, o que
faz com que ela pareça ainda
mais desejável”, comenta
Chloe Carmichael, terapeuta
especializada em
relacionamentos que atua em
Nova York (EUA). “De
repente, você pode estar se
dedicando a alguém que pode
não estar indo atrás de você e
que está satisfazendo sua
necessidade emocional de
longe. É como se entupir de
besteira quando o que você
precisa é de uma refeição.”
Ops... culpada. Embora eu
tenha visto meu crush apenas
mais uma vez em um período

38 WOMEN’S HEALTH / Agosto 2019

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