Go Outside - Edição 159 (2019-06 & 2019-07)

(Antfer) #1

32 GO Outside


Radar


06/07.19


Montanhismo


32 GO Outside


Um gigante


nas Dolomitas


Nem a paralisia cerebral


fOi empecilhO para um jOvem


brasileirO de 14 aNOs escalar


a mONtaNha mais alta


da cadeia italiaNa


Por Thaís ValVerde


o gaúcho Getúlio Felipe é um jovem
de 14 anos diagnosticado com paralisia
cerebral depois de sofrer uma parada
respiratória ao nascer. Como consequên-
cia, teve limitações nos movimentos das
pernas. Foi apenas aos 7 anos de idade que
Getulinho (como é chamado) conseguiu
caminhar pela primeira vez. Aqueles
passos lhe abriram um mundo de pos-
sibilidades e sonhos, como os de correr,
pedalar, jogar futebol e desafiar seus
limites. O menino foi crescendo, virou
goleiro de um time infantil e foi conquis-
tando mais objetivos – alguns que até ele
mesmo não imaginava, como escalar uma
montanha de 3.343 metros da cadeia das
Dolomitas, na Itália.
Essa aventura começou a partir da
amizade que ele fez com o empreendedor
brasileiro Pedro McCardell, 39, funda-
dor do aplicativo Lyfx, uma plataforma
que conecta viajantes e pessoas locais
que desejam ser guias dos usuários em
atividades outdoor. Eles se conheceram
quando Pedro estava fazendo trabalho
voluntário para uma instituição sem

“Na montanha, aprendi que
é muito importante confiar
e pedir ajuda para as pessoas,
em um verdadeiro trabalho
em equipe. Isso eu levo para
a minha vida.”

fins lucrativos. “Getúlio estava no gol, e
eu cheguei para brincar com ele. Acabei
dando uns chutes na bola e logo vi sua
dificuldade para se movimentar. Mesmo
assim, o menino corria para as bolas com
uma vontade incrível”, lembra Pedro. Os
dois trocaram os números de celular e
mantiveram o contato.
Pedro, que já viajou sozinho de moto
por mais de 25.000 km de São Paulo até
São Francisco, nos Estados Unidos, esta-
va na base do argentino Aconcágua, em
2015, quando resolveu gravar um vídeo
convidando Getúlio para um dia escalar
uma montanha com ele.
O garoto topou no mesmo instan-
te. A partir desse convite, um longo e
intenso processo se iniciou. Com ajuda
de profissionais indicados por Pedro,
Getúlio começou a fazer treinos que
ajudaram a melhorar sua qualidade
de vida, alongamentos e locomoção.
Também realizou uma série de simu-
lações de algumas situações de mon-
tanha, como caminhar em areia bem
fofa e solta parecida com neve, além de

subida e descida em barrancos. Pedro
acompanhou toda a evolução por vídeos
enviados pelo pai do garoto, ajudando
a decidir os próximos passos e como
todos poderiam chegar mais próximos à
situação que iriam enfrentar.
Além das preocupações básicas de
quem encara uma montanha, como
hidratação e alimentação, Pedro também
queria trabalhar outro ponto em Getúlio:
a possibilidade da falha. “Falhar é algo
normal nesse tipo de situação e significa
apenas que teríamos que recriar uma
nova oportunidade adiante. Poderíamos
falhar por diversos motivos, como as
condições climáticas, o que é muito nor-
mal, ou por medo ou mesmo por exaustão
física. Todas completamente aceitáveis.
O mais importante é estar preparado para
falhar, para poder entender o que aconte-
ceu e melhorar sempre.”
Depois de quatro anos de preparação,
no dia 21 de abril, domingo de Páscoa,
Getúlio chegou ao topo do pico Punta
Penia, a 3.343 metros de altitude. O local
é um dos cumes da Montanha Marmola- shutterst

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