A ÁGUA SEMPRE FOI UM RECURSO pre-
cioso para a humanidade, a ponto de
ter sido sacralizada. São conhecidas em
todo o território do Império Romano
representações aquáticas ou de divin-
dades associadas à água, muitas vezes
em geografi as próximas de rios, ribeiros,
ou do próprio mar, mas também em
articulaçãocoma própriaarquitectura:
templos,ninfeus,jardinscomcisternas
outanques,oimpluviumouastermas.
Omosaicoprovenientedacidade
romanadeDougganaTunísia(classificado
comoPatrimónioMundial)evocaa ima-
gemdeumescravocoma missãodeofe-
receráguaaosseussenhorese dáconta
datransversalidadedesterecursovital
nasregiõesmaisáridasdoimpério.Tam-
bémnoterritórioqueé hojePortugale
naregiãodoAlentejo,a águajá eraescassa
há dois mil anos. Grandes estios e uma
irregularidade no regime das chuvas no
clima mediterrâneo foram fenómenos
recorrentes ao longo da história de ocu-
pação do território. Em , a descoberta
num campo da freguesia de Ervedal, no
concelho de Avis, de uma ara votiva con-
sagrada à divindade das fontes Fontanus
comprovouque,emplenoImpério
Romano,tambémsesentiamosproble-
masdafaltadopreciosolíquido.
Otextoqueseencontranestaara
referequeo proprietáriodoescravo
Threptus,CaiusAppuleiusSilus,fezum
votodeagradecimentopelaságuasque
o seucativodescobriu.Estapeçaquese
encontraintegradanaexposiçãodas
ReligiõesdaLusitânianoMuseuNacional
deArqueologiafoioferecidaaoseufun-
dadorJoséLeitedeVasconcelosem.
Em tempos de seca,
ontem como hoje
NO TOPO: DE AGOSTINI / GETTY IMAGES/MUSEU ARQUEOLÓGICO DE TUNES.
À DIREITA: HUGO MARQUES. CORTESIA: MUSEU NACIONAL DE ARQUEOLOGIA
Caius Appuleius Silonis poderá
ter sido um importante senhor
na zona de Ervedal, no Alentejo.
Esta invulgar ara, descoberta há
mais de um século, foi dedicada
por um dos seus servos às
divindades que permitiram a
descoberta de água na proprie-
dade, segundo interpretação do
epigrafista José d’Encarnação.
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